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Justiça francesa declara Continental culpada por acidente com o Concorde

Paris - A justiça francesa considerou penalmente responsável nesta segunda-feira (6/12) a Continental Airlines pelo acidente com o Concorde, que matou 113 pessoas no ano 2000, nas proximidades de Paris. A empresa também foi condenada a pagar multa de 200 mil euros (US$ 265 mil), além do pagamento de um milhão de euros (US$ 1,35 milhão) de indenização à Air France.

O acidente ocorreu em 25 de julho de 2000, dois minutos depois da decolagem de um Concorde da Air France em direção a Nova York.

Um documento do Escritório de Investigações e Análises (BEA), autoridade francesa encarregada dos aspectos técnicos, informa que o acidente foi provocado por uma lâmina de titânio que se desprendeu de um avião DC10 da Continental Airlines que acabara de decolar do aeroporto Charles de Gaulle.

Uma roda do Concorde explodiu depois de passar sobre a lâmina, de acordo com o BEA, e as peças expelidas provocaram um buraco no tanque combustível, o que causou um vazamento e um incêndio. Logo em seguida, pela primeira vez um modelo do Concorde caiu.

A Continental Airlines nega qualquer responsabilidade no acidente e alega que o avião pegou fogo antes de tocar a lâmina em questão.

Depois do acidente, o Concorde da Air France e da British Airways permaneceram 15 meses em terra. Em seguida, retomaram os voos por algum tempo, deixando de voar em 2003.

A frota de Concorde, que iniciou os voos comerciais em 1976, contava com 20 aeronaves. Muitos faziam voos transatlânticos a uma velocidade superior a 2.170 quilômetros por hora.

Um voo entre Paris e Nova York demorava menos de quatro horas.

O advogado da companhia aérea americana Continental, Olivier Metzner, disse nesta segunda-feira que o veredicto do tribunal francês é "absurdo", e anunciou que apelará da decisão. Segundo ele, a decisão "protege unicamente os interesses franceses".

"Estamos totalmente em desacordo com o veredicto da corte em relação à Continental Airlines (...) e apelaremos certamente desta sentença absurda", declarou, em comunicado em nome da empresa divulgado em Londres.

O acidente com o Concorde, no qual morreram 100 passageiros (a maioria alemães), nove tripulantes e quatro membros do pessoal de terra, marcou o fim da aventura do avião supersônico, que deixou de voar definitivamente em 2003.

Durante quatro meses, de fevereiro a maio, o tribunal francês tentou determinar a responsabilidade da Continental Airlines, de dois dos empregados e de três ex-dirigentes franceses do setor aeronáutico.

A justiça francesa condenou a Continental a indenizar com 500 mil euros a Air France por "dano moral" e com outros 500 mil euros por "prejuízo à imagem". A Air France exigia um total de 15 milhões de euros de indenização.

O tribunal também condenou a 15 meses de prisão um dos mecânicos da Continental, John Taylor, de 42 anos, por ter fabricado e fixado mal a peça.

Eximiu de culpa, no entanto, o chefe de serviço, Stanley Ford, de 71 anos, e os três ex-dirigentes da aeronáutica francesa: Henri Perrier, ex-diretor do programa Concorde da indústria aeronáutica francesa, o colaborador Jacques Hérubel e o chefe do departamento geral da Aviação Civil, Claude Frantzen.

Os grandes ausentes do processo foram os familiares dos passageiros falecidos no acidente, a maioria alemães, indenizados pela Air France e pelas seguradoras menos de um ano depois da tragédia.

Apenas as famílias dos quatro empregados em terra e dos tripulantes compareceram ao julgmento.