Madri - Milhares de passageiros bloqueados nos aeroportos espanhois começaram finalmente a embarcar neste domingo, depois da greve dos controladores aéreos que obrigou o governo a reagir com uma inusitada firmeza ao colocar o tráfego sob a autoridade do exército.
A greve iniciada na sexta-feira prejudicou cerca de 300 mil passageiros num período em que milhares de espanhois saíam de férias aproveitando os cinco dias de feriado prolongado, o mais longo do ano.
Frente ao movimento, que paralisou a atividade aérea durante 24 horas, o governo decidiu decretar o "estado de alerta", uma medida reservada a situações excepcionais. Foi a primeira vez que se declarou o estado de alerta na Espanha desde a volta à democracia após a morte do ditador Francisco Franco, em 1975.
O estado de alerta é reconhecido pela Constituição e em uma lei de 1981 para eventualidades como "terremotos, inundações, incêndios ou acidentes de grande magnitude, crise sanitárias, paralisações de serviços públicos essenciais ou situações de desabastecimento de produtos de primeira necessidade".
A procuradoria de Madri também abriu uma investigação por delito de perturbação da ordem pública, punível com penas de até oito anos.
Os controladores ficarão submetidos durante 15 dias à autoridade do exército. "Vamos aplicar a lei com firmeza e determinação", advertiu o ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba.
Depois de decretado o "estado de alerta", os controladores voltaram rapidamente a seus postos e o tráfego aéreo foi retomado progressivamente.
O movimento dos controladores aéreos ocorreu depois de o governo espanhol aprovar, na manhã de sexta-feira, a privatização parcial da gestão dos aeroportos.
Essa decisão, segundo os controladores, o obrigavam a trabalhar mais horas, o que supõe uma situação insustentável.
"Vivemos denunciado há meses que estamos chegando a nosso máximo de horas, o e que isso ia acontecer no mês de dezembro", denunciou o porta-voz do sindicato dos controladores USCA, Daniel Zamit.
Segundo cifras do ministério dos Transportes, dos 2.300 controladores aéreos ativos na Espanha, 135 recebem mais de 600 mil euros anuais e 713, entre os 360 mil e 540 mil euros, cifra bem maior que seus colegas europeus.
Para o jornal El Mundo "é obsceno que os controladores privilegiados façam este tipo de chantagem contra o Estado" e, por isso, "devem ser castigados".
Essa situação poderá ser proveitosa para o governo de José Luis Rodríguez Zapatero, muito afetado pela crise financeira e com índices de popularidade baixos.