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Al-Qaeda ataca o calcanhar de Aquiles do Ocidente: a economia

Paris - A economia ocidental é, há 15 anos, um alvo da Al-Qaeda, mas, desde a crise financeira de 2008, os partidários de Osama Bin Laden compreenderam que esta é muito mais vulnerável e intensificaram os ataques para arruinar os inimigos, afirmam analistas.

"É a estratégia de ferir para levar à falência", afirmou o americano Daveed Gartenstein-Ross, diretor do centro de estudos da radicalização terrorista na Fundação pela Defesa das Democracias, um centro de reflexão de Washington.

"Bin Laden pensa sinceramente que participou na ruína da União Soviética no Afeganistão e seu objetivo é fazer o mesmo com os Estados Unidos", disse à AFP.

"E é um argumento: as guerras do Iraque e do Afeganistão são incrivelmente caras. Os gastos gerados por estes conflitos e pelas medidas de segurança internacionais são questões legítimas que precisamos expor".

Na capa do terceiro número da revista virtual Inspire, redigida em inglês pela Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), os jihadistas citam uma cifra com destaque: 4.200 dólares.

Este é o orçamento do que eles chamam de "Operação Hemorragia", que consistiria no envio a partir de Sanaa de pacotes-bomba aos Estados Unidos, por meio de empresas de frete aéreo americanas. As bombas foram interceptadas, mas a onda expansiva econômica se propagou por todo o setor, que se viu obrigado a estudar novas e caras medidas de segurança.

"Desde o princípio, nosso objetivo era econômico", afirma a AQPA.

"Forçar o Ocidente a instalar dispositivos de segurança suficientemente eficazes para detectar nossos artefatos explosivos será uma carga pesada adicional nas economias já quebradas".

"Mudaram a estratégia nos últimos dois anos", explica Daveed Gartenstein-Ross.

"Os aspectos econômicos de suas ações eram importantes para eles antes, mas, desde a crise de 2008, centram mais em ataques de menor envergadura, sabendo que as repercussões econômicas jogarão a seu favor".

Pacotes-bomba, ações isoladas de homens-bomba, atentados mais ou menos bem organizados que geram pânico: tudo faz parte do que a AQPA chama de "estratégia dos mil ferimentos", que tem o objetivo de fazer o inimigo sangrar até a morte".

Pressionados pelos mísseis disparados pelos caças teleguiados americanos contra seus refúgios nas zonas tribais paquistanesas, sem possibilidade de deslocamento, os líderes da Al-Qaeda consideram os ataques contra a economia mundial uma forma de ameaçar, de existir e de permanecer no noticiário.

Analistas e policiais destacam ainda que tais operações podem ser executadas por grupos, partidários ou militantes com os quais os líderes da Al-Qaeda sequer estão em contato. Precisam apenas elogiar suas ações na internet, uma vez realizadas, mesmo em caso de fracasso.

Abdel Bari Atwan, editor do jornal Al-Quds Al-Arabi e autor de História secreta da Al-Qaeda, é um dos poucos jornalistas que já entrevistou Osama Bin Laden várias vezes.

"Ele me disse que seu objetivo era atrair os americanos para as terras árabes e eles caíram na armadilha", disse à AFP.

"O custo da ;guerra contra o terrorismo; desde o 11 de setembro é de quatro ou cinco trilhões de dólares. É fenomenal, tanto como o dinheiro que destinaram para tirar os bancos da crise. A economia americana afundou em parte por culpa do custo destas guerras".

"Os ataques contra as companhias aéreas e o transporte aéreo não são novos: a Al-Qaeda sempre pensou nisso, para criar pânico e afetar a economia. Estão conseguindo", conclui.