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Haiti: Candidato de oposição denuncia fraude na escolha do novo presidente

Uma relativa calma marcou o último dia de campanha dos 19 candidatos à Presidência do Haiti. A capital, Porto Príncipe, começou a ter a segurança reforçada para as eleições de amanhã, no esforço de evitar novos episódios violentos como os das últimas semanas. O pleito prometia dar mais estabilidade ao país, assolado por um terremoto e um furacão no último ano, mas será realizado em meio a uma epidemia de cólera que já matou mais de 1.600 pessoas, e sob a suspeita antecipada de irregularidades. Um dos três favoritos para suceder o presidente René Préval, o cantor Michel Martelly, alertou ontem, em entrevista coletiva, para a possível ocorrência de ;fraudes em massa;.

;É uma certeza, essas eleições não serão confiáveis. Haverá fraudes em massa. Estamos prevendo. Sem dúvida, o resultado não será a expressão do voto popular;, denunciou Martelly, que advertiu sobre a possibilidade de reações inflamadas por parte da população. ;Se as pessoas não têm a possibilidade de fazer escutar sua voz por meio do voto, vão fazê-lo de outra maneira, qualquer que seja o meio. Se devem fazer uma revolução para se fazer entender, então farão a revolução;, afirmou. O candidato, no entanto, disse que aceitará o resultado, qualquer que seja. ;Quero vencer pelo meu país. Se perder, continuarei colaborando pelos meus meios;, garantiu.

Martelly, um polêmico cantor popular, aparece em terceiro nas pesquisas de intenção de voto. Na sua frente estão Jude Célestin, um engenheiro de 48 anos sem experiência política, mas apoiado por René Préval, e a ex-primeira-dama Mirlande Manigat, 70 anos, formada em Ciência Política na Sorbonne, na França. Mais de 4 milhões de eleitores estão habilitados a escolher o novo presidente do Haiti, bem como 11 senadores e 99 deputados. Os três candidatos apresentaram propostas que incluíam desde a prevenção de desastres naturais até o combate à corrupção e a criação de empregos.

Cólera
Devido ao momento delicado que o país vive atualmente ; com a epidemia de cólera e uma onda de violência ;, alguns candidatos chegaram a pedir o adiamento das eleições. Na noite de quinta-feira, contudo, o diretor-geral do Conselho Eleitoral Provisório (CEP), Pierre-Louis Opont, confirmou que o pleito será realizado impreterivelmente amanhã. Na última segunda-feira, duas pessoas morreram em confrontos entre equipes de Célestin e do representante do partido Resp;, Charles Henry Baker.

Ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que os casos de cólera no Haiti podem chegar a até 400 mil nas próximas semanas, devido à rápida propagação da doença. ;Estamos em um ritmo muito lento. Devemos estar atentos para evitar o pior cenário previsto pela OMS, de 400 mil casos;, disse a porta-voz da Agência de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), Elisabeth Byrs, destacando que os países devem cumprir seus compromissos de ajudar na luta contra a epidemia. ;Do pedido de US$ 164 milhões, estamos hoje com US$ 19,4 milhões;, afirmou.

Segundo as últimas cifras divulgadas pelas autoridades haitianas, a epidemia de cólera, cujos primeiros casos foram registrados em meados de outubro, causou 1.648 mortos e cerca de 30 mil hospitalizações. Até agora, a OMS estabelecia 200 mil casos como a pior situação possível. Mas, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPS, agência regional da OMS), essas 200 mil vítimas podem ser alcançadas em três meses e chegar a 400 mil antes de um ano.