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Trabalhadores de Portugal realizam a maior greve da história do país

Lisboa - Mestres e professores, bombeiros, funcionários ferroviários, artistas, pilotos e médicos uniram-se nesta quarta-feira (24) em Portugal para protestar contra o plano de austeridade do governo socialista, realizando a maior greve geral da história do país, segundo os sindicatos.

"É a maior greve já realizada, mais importante que a de 1988", ano em que foi convocada a maior paralisação unitária em Portugal, afirmou o secretário-geral da central sindical UGT, João Proença, enquanto seu colega da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, falava de "mais de três milhões de grevistas".

"Na grande maioria dos casos, a mobilização é inclusive mais forte que durante as greves setoriais e não integra apenas o setor público, mas também o privado", disse Proença.

O movimento, convocado por essas duas centrais sindicais, unidas pela primeira vez em 22 anos, provocou uma paralisação quase total nos transportes públicos, e todos os voos comerciais, tanto de partida quanto de chegada a Portugal, foram cancelados.

Esta greve geral ocorre em protesto contra a política de austeridade imposta pelo governo para reduzir os déficits públicos e tranquilizar os mercados financeiros.

Os sindicatos expressaram satisfação com a forte mobilização do setor privado, enquanto a ministra do Trabalho, Helena André, a qualificou de "muito reduzida", estimando que a greve afetou sobretudo a administração pública e os transportes.

Segundo a ministra, o setor "mais atingido" pelo movimento é o dos transportes, com uma "taxa de adesão de 5,9 a 95%, segundo as empresas".

Em Lisboa, a rede do metrô permaneceu fechada durante todo o dia, e apenas um em cada quatro ônibus circulava. O transporte fluvial entre as duas margens do rio Tejo também estava interrompido, o mesmo acontecendo com 75% dos trens.

"Não foi registrado nenhum incidente. As pessoas entendem que não é uma greve para pedir aumento salarial, é para defender os direitos de todos, os subsídios familiares", declarou à AFP José Marques, condutor do metrô em Lisboa há 16 anos.

A greve acontece num momento em que o parlamento português se prepara para votar de forma definitiva na sexta-feira um orçamento de austeridade sem precedentes para cortar o déficit, de 7,3% para 4,6% do PIB.

Este plano de ajuste inclui redução de salários, alta de impostos e diminuição de benefícios sociais.

A greve provocou fortes perturbações nas áreas da saúde - nos hospitais apenas os casos de urgência eram atendidos - e educação, com 75% dos professores em greve, de acordo com seu sindicato.

Bombeiros, bancários, artistas, agentes penitenciários, funcionários da justiça também aderiram ao movimento, enquanto policiais deixaram de registrar infrações.

De acordo com os sindicatos, o movimento foi "significativo" em várias das empresas mais importantes do país, com fábricas de automóveis paralisadas e indústrias de calçado, papel e cortiça sem trabalhadores.

No entanto, as associações patronais destes setores falaram de "distúrbios residuais", anunciando taxas de adesão menores de 5% em nível nacional.

Independentemente da amplitude da greve desta quarta-feira, a ministra reafirmou que a margem de manobra do governo era "praticamente nula", no momento em que Portugal está na mira dos mercados, após os planos de resgate aplicados na Grécia e na Irlanda.

Sua aplicação daria lugar a uma forte queda do poder aquisitivo em um país onde o salário mínimo é inferior a 800 euros.

A última greve geral em Portugal ocorreu em maio de 2007, mas na época foi convocada apenas pela CGTP.

Afetado por um crescimento amorfo nos últimos anos, Portugal possui uma dívida pública de 161 bilhões de euros (cerca de 220 bilhões de dólares), ou seja, mais de 82% de seu PIB.