Dublin - O primeiro-ministro irlandês Brian Cowen, alvo de uma desavença crescente no seio da própria coalizão de governo, dedicou-se nesta terça-feira (22) a convencer seus oponentes a deixar de lado as divergências para aprovar um plano de austeridade draconiano, prévio ao projeto de resgate internacional da Ilha.
"Aprovar o novo orçamento é muito importante para atingir nossos objetivos", lançou o chefe do governo, atacado por uma oposição combativa, durante sabatina no Parlamento. "Acabemos o trabalho, é importante", insistiu.
"Acho que o orçamento poderá obter o apoio necessário", comentou Cowen, num momento em que a coalizão no poder está à beira da implosão. Os Verdes, integrantes da maioria governamental, haviam pedido eleições antecipadas em janeiro, ou seja um ano e meio antes da data prevista.
"Brian Cowen é cego, agarrando-se ao poder alegando "interesse nacional", enquanto todos os que o rodeiam querem que se vá", escreveu o Irish Examiner. "Não me agarro ao poder", respondeu Cowen em tom seco ante o Parlamento.
Acuado pelos Verdes, o chefe de governo aceitou na noite de segunda-feira convocar eleições legislativas, mas só depois da aprovação do orçamento para 2011 e de um novo plano quadrienal de austeridade no início do próximo ano.
Estas duas questões muito delicadas estão condicionadas a um amplo plano de ajuda, que a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estão finalizando.
O plano de quatro anos de austeridade será apresentado na quarta-feira e a lei orçamentária, no dia 7 de dezembro, mas apenas as medidas secundárias serão submetidas à votação; a aprovação definitiva deverá acontecer em janeiro no mais tardar. As eleições seriam subsequentes, em fevereiro ou março.
O voto do orçamento e do plano de austeridade quadrienal é "essencial", advertiu nesta terça-feira o comissário europeu para Assuntos Econômicos, Olli Rehn, na rádio RTE. O plano de austeridade irlandês visa a levar o déficit público da ilha a 3% do PIB contra o recorde de 32% este ano. Sua aprovação deve acontecer "o mais rápido possível porque a cada dia que passa aumentam as incertezas", acrescentou, numa alusão à queda nas Bolsas, em particular dos valores bancários, assim como do euro.
"É o futuro de nossa moeda única que está em jogo", destacou o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Sch;uble. A zona do euro está "numa situação extemamente séria", acrescentou a chanceler Angela Merkel.
O presidente da UE, Herman Van Rompuy, mostrou-se, no entanto, tranquilizador. O plano de ajuda colocado em prática pela UE e o FMI é "suficiente para a Irlanda", garantiu. "Não haverá problema para o mecanismo de estabilidade europeu", acrescentou.
Brian Cowen terá que empreender grande esforço para convencer a oposição a votar o plano de austeridade: sua impopularidade registra novos recordes após o vivo descontentamento da população ante a "humilhação" que representa o apelo à ajuda externa para solucionar os problemas da ilha.
Os irlandeses veem com maus olhos as novas medidas de austeridade que se anunciam. Após uma redução dos subsídios ao desemprego e familiares, assim como importantes cortes no emprego público, o novo plano quer ir ainda mais longe, reduzindo o salário mínimo. A medida obedece a uma recomendação do FMI.