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OMS elogia afirmações do Papa sobre o uso de preservativos

Pontífice admitiu a utilização de preservativos em "casos excepcionais"

BERLIM - A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, elogiou nesta segunda-feira (22/11) o fato de o Papa Bento XVI admitir a utilização de preservativos em certos casos para reduzir o risco de transmissão do vírus da Aids.

"Saúdo essa posição. Pela primeira vez, a utilização de preservativos em certas circunstâncias é admitia pelo Vaticano. É uma boa notícia e um bom começo", afirmou Chan, em Berlim, onde apresentou o relatório anual de sua organização.

Em um livro que será lançado nesta terça-feira na Alemanha e na Itália, Bento XVI, de 83 anos, afirma que o uso de preservativos é aceitável "em certos casos", especialmente para reduzir o risco de infecção do HIV, mas insiste que não é a "verdadeira" maneira para combater a Aids, já que para ele é necessária uma "humanização da sexualidade".

Excepcional

O Vaticano, no entanto, ressaltou o "caráter excepcional" do uso da camisinha nas declarações feitas pelo Papa e insistiu que o uso do preservativo é justificado apenas "em alguns casos" e não constitui uma solução ao problema.

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, declarou que o pontífice falou a respeito de uma "situação excepcional".

"O Papa considerou uma situação excepcional na qual o exercício da sexualidade é um perigo real para a vida do outro", afirma Lombardi em um comunicado.

A nota, pouco usual do Vaticano, descarta que as declarações do pontífice possam ser definidas como uma "mudança revolucionária" e reitera que, para os casos excepcionais, "o Papa não justifica o exercício desordenado da sexualidade, e sim considera o uso do preservativo para diminuir o perigo de contágio como ;um primeiro ato de responsabilidade;".

O livro, intitulado Light of the World: The Pope, the Church and the Signs of the Times (Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais do Tempo), é baseado em 20 horas de entrevistas conduzidas pelo jornalista alemão Peter Seewald. Alguns capítulos foram publicados neste domingo pelo jornal do Vaticano, L;Osservatore Romano.

A declaração surpreendente, apesar de não questionar a proibição da camisinha na doutrina da Igreja, foi considerada um passo importante que muda a imagem ultraconservadora do pontífice alemão, segundo analistas.

"O Papa deu o passo em um momento maduro, que já era esperado por muitos teólogos e conferências episcopais", afirmou o vaticanista Luigi Accatoli do jornal Corriere della Sera.

A inédita abertura do chefe da Igreja Católica ao uso do preservativo, rejeitado de todos os modos até o momento, abre o debate dentro da instituição sobre uma aceitação ou não do uso da camisinha como um "mal menor" para salvar vidas.

Importantes nomes da Igreja, como os cardeais Carlo Maria Martini e o africano Peter Kodwo Appiah Turckson, já haviam se pronunciado publicamente a favor do uso da camisinha em casos específicos, como quando um dos membros do casal está contaminado.

Ressalva

A nova posição de Bento XVI certamente influenciará o debate, já que até agora a Igreja defendia apenas a abstinência como método de prevenção da doença.
No entanto, pessoas ligadas ao pontífice tentaram minimizar o alcance da afirmação. "A doutrina católica não muda, o uso do preservativo está proibido", afirmou Giovanni Maria Vian, editor do L;Osservatore Romano.

"O sumo pontífice se refere a um ato de caridade e não à mudança da doutrina", destacou o escritor católico Vittorio Messori. Mas, para o diretor do programa Unaids, criado pela ONU para combater a propagação do vírus da Aids, a declaração é um "passo adiante".

"É um passo adiante significativo e positivo do Vaticano", afirma em um comunicado o diretor executivo do Unaids, Michel Sidibé."Este avanço reconhece que um comportamento sexual responsável e o uso do preservativo têm um papel importante na prevenção do HIV-Aids", completa a nota.