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Otan aprova estratégia de saída do Afeganistão


Os líderes da Otan aprovaram neste sábado (20/11) na reunião de cúpula de Lisboa uma estratégia de saída do Afeganistão, baseada na transferência progressiva do controle da segurança às autoridades afegãs entre 2011 e 2014.

"Iniciamos o processo para que os afegãos recuperem o controle em sua própria casa", declarou o secretário-geral da Aliança Atlântica, Anders Fogh Rasmussen, ao fim de uma reunião histórica dos aliados com o presidente afegão, Hamid Karzai.

"O objetivo é que as forças afegãs controlem o país no fim de 2014, após um processo que começará no primeiro semestre de 2011 de forma gradual e distrito por distrito", completou Rasmussen.

Nove anos depois do início da guerra contra os talibãs, que está longe de ser vencida, 140.000 soldados estrangeiros estão mobilizados no Afeganistão, mais de 100.000 deles americanos.

Os talibãs reagiram ao anúncio e afirmaram que a Otan está condenada à derrota no Afeganistão.

"Está claro que depois de nove anos de ocupação, os invasores estão condenados ao mesmo destino daqueles que seguiram o mesmo caminho antes", afirma o grupo extremista islâmico em um comunicado divulgado pela internet.

"O aumento de suas tropas, as novas estratégias, seus novos generais, as novas negociações e a nova propaganda não tiveram nenhum efeito", completa o texto.

Com o avanço da transferência do controle da segurança às forças afegãs "distrito por distrito", as tropas estrangeiras devem deixar o país gradualmente. Os Estados Unidos pretendem iniciar a redução de sua presença no Afeganistão em julho de 2011.

Mas uma fonte do governo americano fez questão de afirmar que as forças da Otan ainda têm muito trabalho no Afeganistão.

"Ainda temos pela frente muitos combates duros", afirmou a fonte, que pediu anonimato.

O alto funcionário também destacou que o presidente Barack Obama não decidiu até o momento alterar a natureza da missão militar no Afeganistão.

Os líderes da Otan fizeram questão de deixar claro que o plano não significa uma retirada total ou sistemática do contingente estrangeiro.

"Ficaremos depois da transição com um papel de apoio", declarou Rasmussen pouco depois de assinar com Karzai um acordo de longo prazo entre a Otan e o Afeganistão, cuja validade será prolongada depois da missão de combate.

"Que fique claro, se os talibãs ou quem quer que seja querem nos expulsar do país, esqueçam. Nós ficaremos o tempo necessário para finalizar nosso trabalho", completou.

A Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf) da Otan está integrada pelos 28 países membros da Aliança e outros 20. Os governantes de todos as nações envolvidas viajaram à Lisboa para participar na reunião de cúpula com o Afeganistão.

Mais de 2.200 soldados estrangeiros morreram em combate desde 2001, sendo que 654 deles apenas em 2010.

Com o objetivo de garantir o processo de transição, Obama pediu aos aliados o compromisso de envio de equipes adicionais de instrutores para formação das forças afegãs.

A Otan acredita que obterá recursos e oficiais suficientes para aumentar o número de funcionários das forças afegãs de 256.000 a 306.000 nos próximos 12 meses.

Já Karzai aproveitou a reunião para reiterar um pedido aos Estados Unidos pela redução da intensidade das operações militares, especialmente as noturnas, conduzidas pelas forças especiais.

Além da reunião sobre o Afeganistão, os líderes da Otan e o presidente russo, Dmitri Medvedev, abriram neste sábado em Lisboa o primeiro encontro de cúpula desde o conflito de agosto de 2008 na Geórgia, com o objetivo de abordar principalmente a possível cooperação da Rússia em um sistema antimísseis na Europa.

Rasmussen anunciou que Otan e a Rússia fecharan um acordo para o envio de material militar dos países ocidentais ao Afeganistão.

"Tenho o prazer de anunciar que alcançamos um acordo que nos permitirá estender o trânsito de equipamento da missão da Otan através da Rússia para chegar ao Afeganistão", afirmou Rasmussen.