Querido por muitos, odiado por outros tantos, o ex-premiê israelense Ariel Sharon saiu ontem do hospital, mas continua em coma há mais de quatro anos. Sharon, 82 anos, vive em estado vegetativo desde janeiro de 2006. Depois de promover a retirada dos colonos israelenses da Faixa de Gaza, em 2005, e de romper com o partido direitista Likud para criar o centrista Kadima, Sharon sofreu um derrame cerebral e foi sucedido por Ehud Olmert. Ontem, os filhos do ex-premiê, Gilad e Omri, finalmente decidiram levá-lo para continuar o tratamento em casa, numa fazenda no Deserto do Negev, sul de Israel. Segundo o jornal Haaretz, há dois anos o pessoal médico vinha tentando convencer a família de que ;é melhor para Arik viver no rancho, cercado de seus entes queridos, do que num quarto de hospital;, como anunciou ontem a direção da instituição.
Shlomo Noi, médico do Hospital Tel Hashomer, em Telavive, disse que o ex-premiê não apresentou melhora significativa, mas aprovou a mudança. ;Ela é resultado de um pensamento moderno da medicina, que prefere ver pacientes sujeitos a cuidados de longo prazo tratados em família ou em comunidade, em vez de nos hospitais;, disse. O médico da família, Shlomo Segev, disse à emissora britânica BBC que Sharon tem períodos de sono e chega a abrir os olhos durante o dia. ;Em alguns momentos, a família acredita que ele reconhece algumas pessoas;, disse Segev.
O comitê de Finanças do Parlamento aprovou uma dotação anual equivalente a R$ 750 mil para financiar o tratamento de Sharon. Em fevereiro de 2009, ativistas do grupo Ometz pediram ao Ministério da Saúde para colocar o ex-premiê em tratamento supervisionado em casa. O órgão aceitou a petição, reconhecendo que o tratamento dispensado ao político era superior ao de um cidadão comum e que ele ocupava no hospital o espaço de dois pacientes.
Na unidade de tratamento, havia mais 18 internados, dois por quarto, mas Sharon ocupava um quarto sozinho, com seguranças na porta e câmeras de segurança instaladas. O tratamento era supervisionado por Arie Wollner, responsável pelo departamento de reabilitação respiratória, e por Genia Agranov, diretor do departamento de reabilitação neurológica. O médico pessoal do ex-premiê, Bolek Goldman, também acompanhava os cuidados. Três enfermeiras revezavam-se em turnos no atendimento ao paciente VIP.
PERSONAGEM DA NOTÍCIA
General de guerra e paz
Ariel Sharon nasceu em 1928 em um assentamento judaico na Palestina, na época administrada pelo Reino Unido com mandato delegado pela Liga das Nações. General com carreira distinguida nas guerras que se seguiram à independência de Israel, em 1948, depois de reformado tornou-se um dos líderes políticos da direita nacionalista, agrupada no Likud.
Foi nessa posição que assumiu o Ministério da Defesa, em 1981. De imediato, impôs a retirada de colonos judeus do Sinai, devolvido ao Egito. Em 1982, comandou a polêmica invasão do Líbano. Perdeu o cargo depois do massacre de centenas de civis palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, em Beirute, com a suposta conivência das forças israelenses.
Sharon voltou a polarizar a opinião pública em 2000, quando sua visita à mesquita de Al-Aqsa detonou a segunda Intifada palestina. Depois disso, elegeu-se primeiro-ministro e rompeu com o Likud, que rejeitou seu plano de retirada das colônias da Faixa de Gaza.