A célebre dissidente birmanesa Aung San Suu Kyi está a ponto de ser libertada, mas embora sua popularidade junto ao povo siga intacta, muitos se perguntam como esta vencedora do Prêmio Nobel da Paz, que viveu isolada do mundo por sete anos em prisão domiciliar, dará continuidade à luta pela democratização e pelos direitos humanos em Mianmar.
As medidas de segurança foram reforçadas nesta sexta-feira em Yangun, e de acordo com autoridades birmanesas é "certo" que Suu Kyi será libertada. Sua última pena de prisão domiciliar termina no sábado (13/11), menos de uma semana depois das primeiras eleições organizadas em Mianmar em duas décadas, consideradas uma farsa pelo Ocidente.
A "Dama de Yangun", odiada pelo general Than Shwe, à frente do governo militar, está presa desde 2003. Passou 15 dos últimos 21 anos encarcerada, detida em diferentes ocasiões.
Sua libertação estava prevista para maio de 2009, mas um americano conseguiu chegar a nado até sua casa em Yangun, que fica à beira de um lago. Como resultado, a junta militar impôs à dissidente mais 18 meses de prisão domiciliar.
Pouco antes de sua provável libertação, o mundo se pergunta sobre quais são as intenções da dissidente diante dos desafios que a esperam do outro lado do portão de sua casa. Ainda não se sabe, por exemplo, se ela questionará os resultados do pleito do último domingo, ou mesmo se pretende reorganizar a dividida oposição. "Ela não vai se transformar em uma rainha das causas humanitárias. Vai fazer política", afirma Maung Zarni, analista da London Schools of Economics.
"Se ela quiser lutar contra o novo governo, deverá acima de tudo garantir que os partidos de oposição se fortaleçam", estima Pavin Chachavalpongpun, do Instituto de Estudos sobre o Sudeste Asiático, baseado em Cingapura.
Além disso, Suu Kyi precisará criar um novo partido integrado por "novos e jovens políticos, para ter certeza de que sua mensagem será transformada em ação".
A LND, que ganhou as eleições de 1990 mas jamais assumiu o poder, foi dissolvida após ter decidido boicotar as eleições. Alguns membros do partido, contrários a esta decisão, criaram a Força Democrática Nacional, mas conseguiram poucas cadeiras no Parlamento. "As pessoas esperam que ela fale (das eleições) e volte a liderar a luta pela democracia e contra a junta", indica Aung Naing Oo, analista do Vahu Development Institute. Antes disso, precisará de um "tempo para assimilar tudo o que aconteceu no exterior durante sua detenção".
Em sete anos, o país mudou. Os cyber-cafés se multiplicaram, os jovens birmaneses agora passeiam conversando ao celular e a paisagem de Yangon se enche de edifícios cada vez mais altos.
A dissidente, sem telefone ou acesso à internet há sete anos, já deu a entender seu desejo de "twittar" com jovens de todo o mundo. Ninguém duvida que a população estará presente para recebê-la e celebrar sua liberdade. "Toda Yangun vai querer vê-la (...). Ela é como Mandela, tem um enorme poder de agregar", afirmou Maung Zarni.
Nas ruas da capital birmanesa reina a impaciência. "Apesar de todas as tentativas de reduzi-la ao silêncio, ela ainda é portadora das esperanças e aspirações do povo, que quer a democracia", explica um executivo local, que pediu anonimato.