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Mianmar realiza suas primeiras eleições desde 1990

YANGON - Os birmaneses votam neste domingo (7/11) pela primeira vez desde 1990, mas na disputa não está a líder opositora Aung San Suu Kyi, que se encontra em prisão domiciliar. O partido dela resolveu boicotar as eleições.

Cerca de 29 milhões de birmaneses estão habilitados a designar o parlamento nacional e as assembleias regionais, em uma eleição classificada de mascarada pelo Ocidente. No entanto, analistas a consideram um primeiro passo, apesar de pequeno, para uma evolução do regime do general Than Shwe.

Os dois principais partidos de oposição de Mianmar acusaram o partido da junta militar de já ter iniciado fraudes dois dias antes da votação. A Força Democrática Nacional (NDF) e o Partido Democrata (PD) disseram que os militares começaram a recolher votos de antemão ilegalmente.

"Nós nos inteiramos que o Partido da Solidariedade e do Desenvolvimento da União (USDP, pró-junta) tenta obter, junto com as autoridades dos distritos, votos de antemão, comprando ou ameaçando as pessoas", afirma o PDM em carta à Comissão Eleitoral.

Um total de 37 partidos disputa as 1.160 cadeiras em jogo. Mas dois terços dos candidatos representam duas formações próximas à junta - o Partido da Solidariedade e do Desenvolvimento da União (USDP), criado pelo regime, e o Partido da Unidade Nacional (NUP), ligado ao regime do general Ne Win, derrubado em 1988.

Além disso, uma quarta parte das cadeiras está reservada aos militares em atividade. Inúmeros oficiais abandonaram o uniforme para se candidatar. Observadores e jornalistas estrangeiros não foram convidados para as eleições.

Segundo a revista Myanmar Times, a oposição tem dificuldades em encontrar voluntários para vigiar os colégios eleitorais. A tensão é perceptível com um poder que ameaça prender quem convocar o boicote às eleições.

"Todo cidadão que quiser que a regra democrática prevaleça deve depositar sua cédula sem falta", enfatizou New Light of Myanmar, jornal que atua como porta-voz da junta, estigmatizando os opositores que tentam "induzir ao erro os que marcham pelo caminho da democracia".

Além das críticas sobre uma campanha controlada, a ONU, Estados Unidos, a União Europeia e, inclusive, alguns países asiáticos, criticaram a ausência da Nobel da Paz Aung San Suu Kyi na disputa.

A dissidente poderá ser libertada em alguns dias, depois de sete anos seguidos de prisão domiciliar e de passar 15 dos últimos 21 anos privada da liberdade. Mas parece mais isolada do que nunca depois da decisão de seu partido, a Liga Nacional pela Democracia (LND), de boicotar as eleições.

A LND venceu as eleições de 1990, mas jamais pôde assumir o poder. A formação foi dissolvida depois de sua recusa em apresentar candidatos nessa votação, o que provocou a partida de alguns de seus membros para um novo partido, a Força Democrática Nacional (NDF).

Os resultados das eleições serão publicados na próxima semana.