Jornal Correio Braziliense

Mundo

Após derrota nas urnas, Obama faz viagem de 10 dias ao continente asiático

Com o olhar voltado para a enfraquecida economia dos Estados Unidos, principal causa de sua derrota nas urnas, o presidente Barack Obama inicia hoje uma viagem de 10 dias à Ásia, na qual buscará oportunidades para empresas norte-americanas, e, assim, aumentar a oferta de empregos. Acompanhado da mulher, Michelle, ele passará por Índia, Indonésia, Coreia do Sul e Japão, em busca de ;mercados abertos;. Antes de deixar o país, no entanto, ele assumiu, mais uma vez, a culpa pelo fracasso democrata nas eleições da última terça-feira, na qual os governistas perderam a maioria da Câmara e nos governos estaduais. Segundo o presidente, ele não conseguiu ;convencer; os americanos dos avanços alcançados por sua administração.

A primeira escala do tour pela Ásia, será na Índia, onde Obama passará três dias ; uma das visitas mais longas a um país nos seus dois anos de mandato. Tudo para tentar estreitar a cooperação entre os dois países, cada vez mais estremecidas com a aproximação de Washington de China e Paquistão. Contudo, segundo o próprio líder americano, questões políticas não serão prioridade na viagem como um todo. ;O principal objetivo é abrir os mercados para as empresas americanas, para que possamos comercializar na Ásia e em alguns dos mercados que mais crescem no mundo. E para que possamos criar empregos aqui nos Estados Unidos;, disse o presidente na última quinta-feira.

O gabinete de Obama, inclusive, se apressou em desmentir as denúncias de que o presidente gastaria, na viagem, US$ 200 milhões por dia ; além de serem deslocados 34 navios de guerra para a região. ;Os números divulgados não têm base real. Devido a questões de segurança, não podemos revelar detalhes sobre os custos de sua segurança, mas esses dados estão extremamente inflacionados, e as despesas do presidente Obama estão na média do que foi gasto por seus antecessores;, explica, em nota, a Casa Branca.

Depois da Índia, o presidente visitará Jacarta ; cidade em que viveu dos 6 aos 10 anos de idade ; e fará um histórico discurso na Universidade da Indonésia. Na quinta-feira, segue para a Coreia do Sul, onde participará da Cúpula do G-20, do qual o Brasil também faz parte. Em Seul, Obama terá encontros bilaterais com diversos líderes, entre eles o colega russo, Dmitri Medvedev, e a premiê da Austrália, Julia Gillard. Não há previsão de que ele tenha uma reunião reservada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A última escala será o Japão, onde o presidente fará parte da reunião do Foro de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec).

O périplo asiático de Obama também estará recheado de momentos simbólicos. O primeiro deles ocorre hoje, quando ele e a mulher participarão de uma homenagem às vítimas dos atentados de novembro de 2008, no Hotel Taj Mahal Palace, local de um dos ataques, e onde o americano ficará hospedado esta noite. Obama também visitará o Grande Buda, no Japão, e a mesquita de Istiqlal, na Indonésia. Decidido a evitar polêmicas, ele cancelou a passagem pelo Templo de Ouro de Amritsar , na Índia, o local mais sagrado dos sikhs. Segundo fontes diplomáticas indianas, Obama teria que cobrir a cabeça para entrar no templo, o que poderia reavivar os rumores sobre sua ligação com o Islã.

Mea-culpa
Três dias após a derrota democrata, Obama admitiu, em entrevista ao programa 60 Minutes, da rede CBS, que não conseguiu mostrar aos americanos os avanços alcançados por seu governo. ;Estávamos tão ocupados e focados em fazer um monte de coisas que paramos de prestar atenção ao fato de que liderar não significa apenas legislar, é também uma questão de persuadir as pessoas;, declarou. ;Assumo pessoalmente a responsabilidade por isso.; Obama já havia admitido sua culpa no fracasso do partido, mas negou que o resultado seja um repúdio à sua agenda doméstica.

AGENDA MOVIMENTADA

Dias 6, 7 e 8
Índia - Visita o memorial das vítimas dos ataques terroristas de 2009, o museu de Gandhi e a Tumba de Humayun. Encontra o colega indiano, Pratibha Devisingh Patil, e o premiê Manmohan Singh. Discursa no parlamento indiano

Dias 9 e 10
Indonésia - Encontra o presidente Susilo Bambang Yudhoyono, visita a mesquita de Istiqlal (Jacarta) e discursa na Universidade da Indonésia

Dias 11 e 12
Coreia do Sul - Participa de uma cerimônia do Dia dos Veteranos no quartel americano Yongsan Garrison. Almoça com o colega, Lee Myung-bak. Janta com líderes do G-20. Na sexta, participa da Cúpula do G-20

Dias 13 e 14
Japão - Participa do encontro da APEC e visita o Grande Buda

SEGURANÇA MÁXIMA

O governo indiano desenvolveu um rigoroso esquema de segurança para a passagem do presidente americano Barack Obama por Mumbai, que em 2008 foi alvo de violentos atentados terroristas. É a primeira vez, desde então, que a capital econômica da Índia recebe uma visita tão representativa. As autoridades locais, severamente criticadas depois dos ataques, que deixaram 166 mortos, querem mostrar agora que são capazes de receber o homem mais poderoso do mundo sem riscos.

Medidas extremas foram adotadas para a visita de Obama, que ficará hospedado no luxuoso Hotel Taj Mahal Palace, um dos locais atacados pelos extremistas há dois anos. Equipes dos serviços secretos norte-americanos desembarcaram há semanas na cidade. De acordo com um oficial da segurança indiana, agentes do FBI e da CIA supervisionam os preparativos.

Desde o mês passado, sistemas de escuta e de vigilância eletrônica vêm sendo instalados, entre eles um que bloqueia as comunicações dos celulares em torno do presidente. O espaço aéreo será fechado para a chegada e a saída do avião presidencial.

A segurança marítima também é considerada prioritária, uma vez que os 10 homens do comando que realizou os atentados em 2008 desembarcaram no porto da cidade sem chamar a atenção. Navios de guerra americanos patrulham a Baía de Bombaim.

Outras medidas de segurança excepcionais foram adotadas, como a proibição de de fogos de artifício e a retirada de todos os cocos dos coqueiros que cercam o Museu Gandhi, para evitar que um deles caia na cabeça do presidente americano durante sua visita ao local.