Já é um consenso entre os líderes políticos americanos que os 12 mil votos latinos espalhados pelo país são importantes para vencer qualquer eleição nos Estados Unidos. E os partidos têm procurado, cada vez mais, formas de garantir o apoio da fatia hispânica, que em alguns estados representa quase a metade da população. A mais nova ; e desesperada ; ação dos democratas foi tentar minar a candidatura do seu próprio candidato ao Senado pela Flórida, Kendrick Meek, para bater com mais força em Marco Rubio, do Partido Republicano, um cubano-americano que tem boa receptividade entre os latinos. Para persuadi-lo, usaram seu último trunfo na campanha: o ainda popular ex-presidente Bill Clinton.
De acordo com o porta-voz Matt McKenna, em um encontro na última semana, o ex-presidente pediu que Meek desistisse em favor do atual governador da Flórida, Charlie Crist, um republicano dissidente que disputa o Senado como independente. O candidato teria aceitado a proposta, mas desistiu na última hora. ;O argumento (usado por Clinton) foi: ;Você pode ser um herói aqui. Você pode pará-lo (Rubio), você pode mudar essa disputa com uma tacada;;, revelou uma fonte democrata ao site Politico. Sem fazer rodeios, o ex-presidente disse a Meek que ele não tinha condições de ganhar. Crist aparece em segundo lugar nas pesquisas, com 30% das intenções de voto, segundo a compilação de sondagens do site Real Clear Politics. Rubio lidera, com 43%, e Meek tem apenas 19%.
A campanha do candidato democrata, no entanto, negou tanto a oferta quanto a possibilidade de desistência. ;Meek nunca saiu, não está saindo nem vai sair da disputa;, disse o diretor da campanha, Abe Dyk. O próprio candidato desmentiu a história ; publicada primeiro pelo Politico, na noite de quinta-feira. ;Qualquer rumor ou declaração de alguém que diga que eu tomei a decisão de deixar a corrida ao Senado é incorreta;, garantiu.
A eleição de Rubio ao Senado é vista como uma ameaça para os governistas, já que o advogado de 39 anos é cotado para compor a chapa republicana à Casa Branca, em 2012. ;Os democratas estão preocupados com a cadeira da Flórida porque Rubio é carismático. É um Obama conservador, que, se chegar ao patamar nacional, vai tomar dos democratas o voto latino;, explicou ao Correio o especialista Peter Wallison, do American Enterprise Institute.
Voto decisivo
Não é só na Flórida que os latinos podem fazer a diferença para os democratas. No Colorado, na Califórnia e em Nevada, os hispânicos são vistos como peças-chaves para a vitória em corridas apertadas. De acordo com o Center for American Progress, os 12,4% de eleitores de origem latina em Nevada podem influenciar o destino do líder governista no Senado, Harry Reid, que está tecnicamente empatado nas pesquisas com a republicana Sharron Angle.
Apesar do forte repúdio dos hispânicos à sua opositora, que defende leis duras contra a imigração ilegal, Reid e os democratas têm a difícil tarefa de estimular os latinos a votar. A maioria deles está decepcionada com a inação do governo Obama em relação à reforma migratória. Um levantamento feito pelo Pew Hispanic Center mostra que 61% dos hispânicos que vivem nos EUA sentem que há uma forte discriminação no país, e 36% deles acreditam que isso se deve à intolerância com os ilegais.
Na Califórnia, onde 21% dos eleitores são latinos, a candidata da oposição ao Senado, Carly Fiorina, tem tentado pintar a democrata Barbara Boxer, candidata à releição, como ;anti-hispânica;. Entretanto, uma pesquisa recente do instituto Field aponta Boxer como a preferida de 48% dos latinos no estado. Fiorina conta apenas com 29% dos votos, e 25% se disseram indecisos. No Colorado, onde se desenrola uma das mais disputadas corridas ao Senado, entre o representante do Tea Party Ken Buck, o democrata Michael Bennet ; que tenta se reeleger ; e o independente Tom Tancredo, o voto dos hispânicos, que representam 20% da população, também será importante. Até agora, Bennet é o preferido entre eles.
RESTRIÇÕES A SARAH PALIN
Mais de dois terços dos eleitores americanos consideram a ex-governadora do Alasca e ex-vice de John McCain na chapa republicana à Presidência, Sarah Palin, despreparada para assumir a Casa Branca no próximo governo. Segundo uma nova pesquisa Washington Post-ABC News, Palin, um dos nomes mais citados pela imprensa americana como possível opção republicana em 2012, desperta impressões ;desfavoráveis; em 54% da população. Desses, 39% disseram vê-la com uma imagem ;fortemente desfavorável;. Entre os democratas, 82% acham que Palin não tem condições de assumir a presidência, bem como 70% dos independentes. O mais interessante, contudo, é a divisão que o tema desperta entre os próprios republicanos: enquanto 47% acham que ela está preparada, 46% pondera que ela talvez não seja a opção mais qualificada. Pontos mesmo ela só tem com os eleitores que se definem como apoiadores do movimento ultraconservador Tea Party. Palin conseguiu convencer 73% deles sobre sua capacidade de governar o país.
PEDIDO DE UNIÃO
Quatro dias antes das eleições, e diante da expectativa de que os democratas percam grande espaço no Congresso, o presidente Barack Obama pediu, mais uma vez, unidade aos republicanos. Ao falar em uma fábrica em Beltsville, Maryland (leste), Obama disse ser consciente de que ;a alta temporada política; logo acabará. ;E, quando isso ocorrer, todos teremos a responsabilidade de trabalhar juntos para promover o trabalho e o crescimento;, ponderou. O presidente sabe que, com um Congresso mais republicano, terá problemas para aprovar cortes de impostos e programas de criação de empregos. Ontem, Obama anunciou um crescimento econômico de 2% no terceiro trimestre. ;Enquanto continuamos a sair da pior recessão em 80 anos, nossa missão é acelerar a recuperação, estimular um crescimento mais veloz (...) e fazer com que os milhões de americanos que ainda procuram emprego voltem ao trabalho;, disse.