A cada pôr do sol de sexta-feira, o comerciante Israel Barbosa Carrijo, 43 anos, tenta adaptar a vida corrida em Marília, interior de São Paulo, ao preceito judaico do Shabat, que prevê o descanso e o exercício da religião até o anoitecer de sábado. Ele, contudo, não se sente completamente judeu. Embora se reúna regularmente com a mulher, os cinco filhos e outros descendentes de judeus para rezar, Carrijo não pode frequentar sinagogas ; assim como mais de 200 brasileiros ;anoussitas;, como são chamados.
;Nós não somos reconhecidos, vivemos à margem do judaísmo;, lamenta Carrijo, que participou ontem de um ato pacífico em frente à representação de Israel em Brasília, para entregar o pedido de reconhecimento ao embaixador Giora Becher. Cerca de 20 pessoas de vários estados ; como São Paulo, Pernambuco e Goiás ; passaram a manhã em frente à embaixada, rezando e cantando em hebraico.
De acordo com o porta-voz do Sindicato Israelita das Comunidades Anoussitas (Sica) no Brasil, Marlon Jorge Albuquerque, o pedido que foi entregue agora já esteve na pauta da Knesset (Parlamento israelense), onde dois deputados apoiaram a causa. ;O Estado de Israel já reconhece a existência dos anoussitas, mas não oficialmente;, explica Albuquerque. Alguns deles esperam ser considerados também cidadãos israelenses. ;Meu objetivo é chegar a Israel para visitar e, quem sabe, viver lá;, afirma a costureira Yehudith Breves, 56 anos, neta de judeus espanhóis.
Segundo o embaixador, a carta ; escrita em português e hebraico ; será encaminhada ao Ministério das Relações Exteriores de Israel. ;Eles descendem de judeus que vieram há centenas de anos para o Brasil e mantiveram, durante todos esses anos, a tradição judaica. Para mim, eles são parte do povo judeu, e esperamos que sejam reconhecidos por todo o povo de Israel;, disse Becher.