De oeste a leste, as consequencias de duas catástrofes naturais assolam a Indonésia. Na noite de segunda-feira, um terremoto de magnitude 7,7 na escala Richter provocou um tsunami, com ondas de até 3m varrendo várias partes do arquipélago, principalmente as Ilhas Mentawai, ao largo de Sumatra, a principal das milhares que formam o país. Até o fechamento desta edição, as autoridades indonésias confirmavam a morte de 113 pessoas e o desaparecimento de 502. Na tarde de ontem, outro fenômeno natural causava mortes e destruição: a erupção do vulcão Merapi, na Ilha de Java, matou um bebê e provocou o deslocamento forçado de 19 mil habitantes. ;Dez vilarejos foram varridos do mapa pelo tsunami;, afirmou Agolo Suparto, porta-voz da Agência Nacional de Gestão de Catástrofes.
Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, o tremor ocorreu na segunda-feira, às 21h42min locais (12h42min de Brasília), a cerca de 33 km de profundidade e 78km a oeste da costa de Pagai Sul, nas Ilhas Mentawai. O abalo destruiu casas na cidade costeira de Betu Monga e em outras localidades. O chefe do Parlamento de Mentawai, Hendri Dori Satoko, afirmou que as ondas dificultaram o trabalho das equipes de resgate, que demoraram a chegar às zonas mais afetadas.
De acordo com as autoridades indonésias, a maioria das vítimas é formada por crianças e mulheres. ;Temos pessoas relatando ao posto de segurança daqui que não conseguiram segurar suas crianças, que elas foram arrastadas. Muita gente está chorando;, disse um funcionário. Entre os desaparecidos há registro de pelo menos 10 turistas australianos que estavam em um barco.
O dirigente parlamentar de Mentawai também afirmou à Metro TV que alguns dos desaparecidos podem estar refugiados em áreas mais altas, e que a polícia das ilhas continuaria as atividades de busca e a construção de postos de emergência. ;Estamos prevendo que as pessoas vão precisar de mantimentos e abrigo. A chuva está caindo muito forte, o vento está muito forte;, disse um policial da delegacia da localidade de Sikakap.
O local atingido pelo tremor é procurado por surfistas do mundo inteiro. O resort Macaronis, na ilha de Pagai do Norte, sofreu danos irreparáveis. Em nota, a empresa World Surfaris disse que o complexo turístico ;experimentou um grau de devastação que o tornou inoperável;. No site Surfaid, o funcionário Tom Plummer relatou que vários barcos explodiram após se chocarem contra outros.
A qualidade das ondas na Indonésia costuma atrair muitos surfistas do Brasil, mas até ontem o Ministério de Relações Exteriores não sabia precisar se a tragédia afetou turistas brasileiros. O surfista Guga Arruda disse ao Diário Catarinense que a temporada oficial do esporte se desenrola entre maio e setembro, e contou que esteve na região no mês passado. ;Sinto muito pelas pessoas que estão lá. Há vários surfistas desaparecidos. Fizemos o mesmo que eles, e penso que isso poderia ter acontecido conosco. Voltamos de lá em setembro. Ficávamos em um barco, não em terra firme. Surfávamos e voltávamos para a embarcação;, contou Arruda.
Causas
O site Live Science, especializado em artigo científicos, ressalta que o movimento das placas tectônicas responde não apenas pelos terremotos na Indonésia, como também pela atividade dos vulcões. ;A Placa Indiana está entrando por debaixo da Placa Continental da Eurásia, o que deu origem ao arco vulcânico no oeste da Indonésia. (A região) abriga 129 vulcões ativos como parte do Anel de Fogo;, explica a publicação. O anel conta com um total de 452 vulcões, que correspondem a 75% dos existentes no mundo.
MEMÓRIA
Em 2004, 168 mil mortos
Desastres naturais ocorrem com frequência na Indonésia. Nos últimos quatro anos, foram 17, que deixaram milhares de mortos. A mais grave delas ocorreu em 26 de dezembro de 2004, após um tsunami provocado por um terremoto no Oceano Índico, o segundo maior já registrado no mundo, que atingiu magnitude 9,3 na escala Richter.
Ondas gigantes, com aproximadamente 10m de altura, varreram cidades em 14 países. Mais de 220 mil pessoas morreram, 70 mil nunca foram localizadas e 1,5 milhão perderam suas casas. Só na Indonésia, foram 168 mil óbitos.
A vulnerabilidade da Indonésia se justifica pela sua localização geográfica. O país fica no chamado Anel de Fogo do Pacífico, uma região de grande atividade sísmica e vulcânica, onde são registrados anualmente cerca de 7 mil tremores. A maioria deles tem pouca potência e passa despercebida pela população.
Este ano, as inundações e os deslizamentos de terra foram responsáveis pelas principais tragédias no país. Em 23 de fevereiro, pelo menos 85 pessoas morreram soterradas perto de Bandung, no sul de Jacarta. E no último dia 4, uma série de inundações castigou um distrito na província de Papua Ocidental, deixando 148 mortos.
Três perguntas para
John Orcutt, professor de Geofísica da Universidade da California (San Diego)
Já existe algum tipo de tecnologia para prever terremotos?
Nós podemos entender as causas dos terremotos, mas ainda não podemos prevê-los. Talvez em algumas décadas consigamos.
E o que pode ser feito para evitar tragédias como essa?
Quando o terremoto é perto da costa, temos o pior tipo de tsunami (onda gigante). Por isso, insistimos que as pessoas devem ser educadas sobre como agir nesses casos. Muitas vezes, correr 300m para cima é o suficiente para salvar vidas. Educação, mapas e sinais de alerta são essenciais.
Como a comunidade internacional poderia ajudar a Indonésia?
Já sabemos que mais de uma centena de pessoas morreram e que mais de 500 estão desaparecidas. Providenciar comida, água e abrigo é a atividade mais crítica, agora.
As últimas tragédias da Indonésia
O tsunami provocado por um violento terremoto que matou mais de 100 pessoas na Indonésia é o mais recente desastre natural a atingir o país. Abaixo, um quadro com as catástrofes desde 2004:
; 25 de outubro de 2010: Um poderoso terremoto fez tremer um arquipélago remoto próximo à ilha de Sumatra, gerando um tsunami que matou pelo menos 108 pessoas e deixou 500 desaparecidos. Horas depois, o vulcão Merapi, no centro da ilha de Java, entrou em erupção, forçando a retirada de milhares de pessoas.
; 4 de outubro de 2010: Uma série de inundações atinge um distrito na província de Papua Ocidental, deixando 148 mortos.
; 23 de fevereiro de 2010: Pelo menos 85 pessoas morrem soterradas em um deslizamento de terra perto de Bandung, no sul de Jacarta.
; 8 de novembro de 2009: Um deslizamento no distrito de Palopo, na província de Sulawesi do Sul, deixa pelo menos 30 mortos.
; 30 de setembro de 2009: Um forte terremoto é registrado nas proximidades de Padang, em Sumatra, matando 1.100 pessoas.
; 2 de setembro de 2009: Um tremor atinge Java, deixando 100 mortos.
; 25 de dezembro de 2007: Mais de 130 pessoas morrem em uma série de enchentes e deslizamentos de terra em Java.
; Julho de 2007: Mais de 130 pessoas morrem em inundações e deslizamentos de terra em Sulawesi.
; 6 de março de 2007: Terremoto em Sumatra mata 73 pessoas.
; 1; de fevereiro de 2007: Inundações em Jacarta deixam cerca de 80 mortos.
; 24 a 29 de dezembro de 2006: Mais de 300 pessoas morrem em uma série de enchentes na ilha de Sumatra; 350 mil ficam desabrigados.
; 17 de julho de 2006: Terremoto submarino atinge a ilha de Java, provocando um tsunami que deixou 650 mortos.
; 20 a 24 de junho de 2006: Enchentes em Sulawesi deixam 350 mortos e 13 mil desabrigados.
; 27 de maio de 2006: Um forte tremor na região de Yogyakarta mata 5.800 pessoas e deixa 1,5 milhão de desabrigados.
; 28 de março de 2005: Terremoto de magnitude 8,6 na ilha Nias deixa 900 mortos.
; 21 de fevereiro de 2005: Um deslizamento de lixo soterra uma favela na região sudeste de Jacarta, matando 140 pessoas.
-- 26 de dezembro de 2004: Terremoto submarino na costa da ilha de Sumatra provoca um violento tsunami, que deixou 220 mil mortos em vários países do Oceano Índico: 168 mil só na Indonésia