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União Europeia reconhece luta de ativista cubano, que fez greve de fome

Guillermo Fariñas caminha com a ajuda de um andador. O corpo esquálido carrega sequelas da greve de fome de 134 dias. O gesto desesperado que quase matou o psicólogo e jornalista de 48 anos foi em protesto à morte de Orlando Zapata Tamayo ; o ativista também não resistiu a um jejum político. Três meses depois do fim do ato que comoveu o mundo, Fariñas foi homenageado ontem com o Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, a mais importante distinção à luta pelos direitos humanos conferida pelo Parlamento da União Europeia, sediado em Estrasburgo (França). Ouça entrevista (em espanhol) com Guillermo Fariñas ;Do ponto de vista físico, estamos com uma inflamação no abdome e uma trombose na parte esquerda do pescoço;, afirmou o cubano ao Correio, por telefone, de sua casa na cidade de Santa Clara, 270km a leste de Havana. Quando fala sobre sua saúde, Fariñas sempre usa a terceira pessoa. Ele se disse ;um pouco surpreso; com o prêmio. ;Com essa distinção, estão dando uma visualização para a ilha;, destaca. ;Os governantes cubanos deverão levar em conta isso, já que o tema das violações dos direitos humanos dentro de Cuba passa a ser evidente com esse prêmio.; De acordo com o Parlamento Europeu, o Prêmio Sakharov 2010 ; referência ao dissidente e físico nuclear soviético Andrei Sakharov (1921-1989) ;, Fariñas já realizou 23 greves de fome para protestar contra a censura na ilha e mostrar oposição ao regime castrista. ;Seu nome foi proposto ao Prêmio Sakharov em representação de todos que lutam pela liberdade e pelo respeito aos direitos humanos em Cuba;, afirma o texto. Pela terceira vez, a União Europeia (UE) contempla com a distinção um movimento opositor cubano. Em 2002, o ativista Oswaldo Payá recebeu a honraria e foi impedido de viajar a Estrasburgo. O mesmo ocorreu com Laura Pollán, líder das Damas de Branco, em 2005. Fariñas não teme ser impedido de retornar a Cuba, caso escolha receber pessoalmente a láurea e 50 mil euros em dinheiro, em 15 de dezembro. ;Aqui temos um mecanismo que é a saída definitiva e a saída temporal. Se eu for, terei de assinar um termo.; A concessão do prêmio a Fariñas tem viés político. Na segunda-feira, os chanceleres europeus se reunirão para revisar a Posição Comum com Cuba. O documento condiciona as relações da UE com Havana a avanços nos direitos humanos. Para Elizardo Sánchez, líder da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, a distinção ;manifesta a preocupação da comunidade internacional ante a péssima situação dos direitos civis, políticos econômicos e culturais, que tem prevalecido em Cuba;. O ganhador do Sakharov guarda mágoa do Brasil. Ele tornou a repetir as acusações contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feitas na entrevista ao Correio, em 19 de março. ;Lula cometeu grandes erros. No dia da morte de Orlando Zapata Tamayo, visitou meu país. E comparou os delinquentes de São Paulo aos presos políticos;, declarou Fariñas. ;Lula é cúmplice de assassinato e do que ocorreu com Orlando, com as Damas de Branco e comigo.; ENTREVISTA Como sua luta e a greve de fome a que se submeteu mudaram a situação dos direitos humanos em Cuba? Minha contribuição foi modesta. Nós simplesmente planejamos a greve de fome por meu irmão Orlando Zapata Tamayo. Eu entreguei minha vida por ele. Eu fiz uso da perserverança das Damas de Branco, que permitiram a Reina Tamayo (mãe de Orlando) falar sobre ela. Meu protesto ajudou de alguma maneira a fazer com que o epíteto de mercenário que compete ao governo cubano se esvanecesse. Uma Cuba ideal, centrada no respeito à liberdade de pensamento e de expressão, é algo possível, se houver boa vontade por parte do presidente Raúl Castro. O que ocorre é que essa vontade não existe. As reformas política e econômica encampadas pelo governo não seriam um começo? Não há reforma política nenhuma em Cuba. Querem fomentar a livre empresa, mas obrigam os pequenos empresários a pagarem impostos, para desestimular que eles desenvolvam a atividade empresarial. A abertura do ponto de vista econômico é muito pequena. Qual é a receita para uma Cuba ideal, que permita a liberdade de expressão e de pensamento? O que falta é perdermos o medo, em primeiro lugar. Também é preciso que a oposição interna e o exílio externo tenham uma plataforma comum, acima de diferenças pessoais e de divergências de tendências políticas.