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Casa Branca recorre contra juíza que proibiu Forças Armadas de excluir gays

Um dia após o Exército dos Estados Unidos anunciar que está pronto para aceitar homossexuais assumidos na tropa, pelo menos três oficiais excluídos das Forças Armadas nos últimos anos decidiram reivindicar a reincorporação. O pedido se ampara em decisão da juíza Virginia Phillips, que determinou a suspensão da política batizada de Don;t ask, don;t tell ("não pergunte, não conte"), implantada no governo Bill Clinton - a medida proibia a exclusão de gays, mas impunha a eles o silêncio sobre sua orientação sexual. O governo de Barack Obama, no entanto, apresentou ontem um recurso judicial na Corte de Apelações da Califórnia contra a decisão de Phillips. O Departamento de Justiça alega que a mudança da medida causou "confusão" para o Pentágono.

Daniel Choi, 29 anos, que lutou na guerra do Iraque de 2006 a 2007, foi o primeiro homossexual afastado a se realistar. "Isso significa muito", afirmou Choi, expulso da Guarda Nacional de Nova York em março do ano passado por anunciar sua opção sexual em um programa de televisão. Na saída do posto de recrutamento na Times Square, em Nova York, ele destacou que o fim da política "Don;t ask, don;t tell" abre "a possibilidade de cumprir meu compromisso e seguir servindo ao país". Ele próprio diz ter "recupado a fé" no governo. "Pelo menos parte dele está do lado da Constituição, do lado das pessoas", acrescentou, antes de saber sobre o recurso da Casa Branca contra a decisão judicial. "Estou pronto para voltar (ao Iraque) amanhã", garantiu.

Randy Miller, 24, da cidade de Stockton (Califórnia), enfrentou resistências no escritório local do Exército. Dispensado em 2006, ele disse que dois sargentos o impediram de se registrar, alegando que "não tinham ouvido falar" sobre a nova orientação ao Pentágono para que admita homossexuais e bissexuais como soldados. Miller, então, foi ao escritório da Marinha, na sala ao lado, e foi autorizado a iniciar o processo de adesão.

Will Rodriguez-Kennedy, 23, excluído em 2008, deixou seus contatos no centro de recrutamento de de San Diego, na Califórnia, na última terça-feira. No entanto, oficiais lhe disseram que as vagas para fuzileiros navais que já serviram só devem ser abertas em janeiro. Ele anunciou que pretende voltar amanhã para reiniciar o processo de realistamento. "Uma vez fuzileiro, sempre fuzileiro", comentou.

Recurso
O Departamento de Justiça pediu ontem ao tribunal de apelações que suspenda a decisão da juíza federal Virginia Phillips que revoga a proibição de homossexuais nas Forças Armadas. O presidente Barack Obama garantiu que apoia o fim da lei, mas quer que ela seja eliminada pelo Congresso. A Casa Branca alertou que a decisão da juíza "cria uma enorme incerteza sobre a situação de membros do serviço militar que venham a revelar sua orientação sexual".

Na terça-feira, o diretor executivo da Rede Legal de Defesa dos Recrutas, Aubrey Sarvis, havia destacado que "durante esse período transitório, os membros do Exército não devem assumir e os recrutas devem ter precaução". A porta-voz do Exército, Cyntia Smith, orientou os militares a lembrar aos solicitantes que a determinação ainda pode ser revertida.