Praxedis Guadalupe Guerrero - Marisol Valles tem 20 anos, um filho ainda bebê e 19 policiais sob o comando, aos quais chefia desde esta quarta-feira (20/10) como comandante da polícia desse povoado mexicano, castigado pela violência e que fica em uma das passagens mais usadas pelos cartéis para levar drogas aos Estados Unidos.
Ninguém mais quis assumir o cargo de chefe de polícia em Praxedis Guadalupe Guerrero, de 10 mil habitantes e situado às margens do fronteiriço rio Bravo, cujo prefeito foi assassinado em junho. Essa estudante de criminologia decidiu enfrentar o desafio, embora reconheça que sinta medo.
"No México, todos temos medo agora, o que precisamos é que o medo não nos vença", disse ao correspondente da AFP esta jovem magra, que usa óculos e prende os cabelos, enquanto segura um caderno de estudante.
Valles foi nomeada na tarde dessa segunda-feira. Ela era a única candidata. Na quarta-feira, na praça do povoado, foram passados em revista os 19 policiais do povoado, dos quais nove são mulheres recentemente incorporadas.
"Arrisquei-me porque quero que o meu filho viva em uma comunidade diferente da que temos hoje, quero que as pessoas não vivam mais com medo de sair, como era antes", afirmou.
Mais de 2,5 mil pessoas foram assassinadas este ano na região do vale de Juárez, onde se situa o povoado, e a região é utilizada pelos traficantes e coiotes que levam drogas e imigrantes ilegais aos Estados Unidos.
Mas Valles sabe que, com os poucos recursos de que dispõe, o trabalho não pode ser combater os poderosos cartéis de Juárez e Sinaloa que, segundo o governo, estão por trás da maior parte dos homicídios cometidos na região.
A tarefa corresponde ao Exército e à polícia federal, reconheceu. Ela disse que se dedicará a recuperar a tranquilidade nos espaços públicos e para isso já começou a visitar escolas e, em alguns bairros, entrou em cada casa para se apresentar.
"Fui bem recebida pelas pessoas e sei que me ajudarão, que vão colaborar comigo para encontrar soluções para os problemas de segurança", explicou.
Em milhares de povoados mexicanos, os escassos, mal armados e mal pagos policiais municipais acabam colocando-se a serviço de traficantes de drogas, reconheceu o governo, que desde 2006 envolveu o exército e a Marinha de guerra em uma ofensiva contra os sete cartéis que operam no país que já resultou em 28 mil mortes.
Uma reforma constitucional está tramitando para se conseguir que os 160 mil militares e 2,5 mil policiais municipais passem ao comando dos governos estatais.
Os policiais municipais são quase 40% dos 433 mil policiais que o México tem. Deste total, apenas 33 mil são policiais federais, os mais diretamente envolvidos na luta contra crimes contra o narcotráfico.
Valles, que disse ter demorado um mês em aceitar o cargo e que só o fez após consultar a família, parece estar certa do desafio que decidiu enfrentar.
"Acreditamos em sua capacidade", disse Andrés Morales, secretário da prefeitura da cidade, ao explicar porque foi nomeada. "O tema social a incomoda, mas não fica aí, propõe soluções", explicou.