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Sudão faz referendo sobre divisão do país e partidos fecham acordo

Vinte e três partidos do Sul do Sudão fecharam acordo para realizar um censo, estabelecer eleições e escrever uma nova Constituição, caso essa parte do país realmente se separe do resto, em um referendo marcado para janeiro do ano que vem.

O entendimento foi fechado depois de um reunião de cinco dias em Juba, capital da parte Sul, onde também foi estabelecido que um governo interino será liderado por Salva Kiir, presidente do Movimento de Liberação do Povo do Sudão (Sudan People;s Liberation Movement ; SPLM) até a realização da nova escolha popular.

Os partidos presentes representavam várias tendências e grupos da região. A ideia foi demonstrar unidade. Alguns analistas acreditam que uma vez independentes do Norte, esses grupos poderiam entrar em choque pelo poder do novo país. Conflitos já ocorreram durante a guerra civil sudanesa.

A conferência também anunciou que, caso ganhe a proposta de manter o Sudão unido, os partidos vão agir em conjunto para salvaguardar os interesses regionais durante o processo de revisão da Constituição.

Nessa segunda-feira (18), as Nações Unidas confirmaram que um grupo de 100 soldados da força de paz foi deslocado para Abyei, uma das áreas em disputa no referendo, marcado para 9 de janeiro de 2011. Numa votação separada, os moradores vão escolher se farão parte do Sul ou do Norte.

A tensão já fez com que autoridades sudanesas levantassem a possibilidade de adiar a decisão sobre o destino de Abyei, diante das dificuldades de definição de áreas e tamanho do colégio eleitoral.

Durante a visita de uma missão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, no mês passado, os representantes do Sul solicitaram a presença de tropas da ONU ao longo da divisa com o Norte. Entretanto, isso ainda não foi decidido. No mês passado, o Exército sudanês reagiu ao anúncio de que mais soldados internacionais poderiam seguir para a região.

As negociações entre o Sul e o Norte sobre definições de fronteiras, número de eleitores e outras regras para o referendo devem recomeçar no dia 27 deste mês. A consulta popular foi um dos itens do acordo de paz fechado em 2005, que colocou fim à guerra civil de cerca de 20 anos, que matou 1,5 milhão de pessoas. O Sul é rico em petróleo.

Em 2003, grupos étnicos da região de Darfur se rebelaram, acusando o governo sudanês de discriminação e negligência. A resposta foi forte e, segundo a ONU, deixou 300 mil mortos e causou a fuga de quase 3 milhões de pessoas.

Em consequência do ocorrido em Darfur, o presidente sudanês Omar Al-Bashir é acusado de crime de guerra e genocídio, com ordem internacional de prisão em vigor, expedida pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Bashir nega as acusações. Líderes africanos já solicitaram a suspensão da determinação, alegando que ela poderia tornar ainda mais tenso o clima no continente.

Em abril, Bashir ganhou as primeiras eleições no Sudão em 24 anos, com quase 70% dos votos.