Quatro dias depois do resgate histórico, os envolvidos diretamente na operação que conseguiu trazer de volta à superfície os 33 mineiros soterrados na mina de San José encontram na fé uma explicação para o sucesso da empreitada. De volta ao local onde ficaram presos por mais de dois meses a 700m de profundidade, alguns dos trabalhadores participaram de uma cerimônia religiosa. Décimo primeiro a ser resgatado, Jorge Galleguillo, 56 anos e mais de 40 de experiência em mineiração, afirmou que nunca perdeu a convicção de sair com vida dos subterrâneos. ;Sempre confiei em Deus e não perdi a esperança;, disse, acrescentando que agradecia aos Céus pelo resgate.
Aclamado como herói nacional, o engenheiro André Sougarret, 46 anos, que comandou a equipe de resgate, deu uma entrevista publicada na edição de ontem do jornal chileno El Mercurio, na qual afirma que ;coisas estranhas; facilitaram o trabalho em San José. Ele admitiu crer em Deus e falou que, nos últimos dois meses, rezou mais do que o habitual.
Segundo Sougarret, durante as operações de sondagem, ocorreram ;coisas que não têm nenhuma lógica na engenharia;. ;Creio que ;algo; aconteceu;, afirmou. Ele contou que, por vezes, os engenheiros não tinham esperança de conseguir chegar até os mineiros porque as imagens que obtinham do interior da mina mostravam que, em alguns locais, seria praticamente impossível romper os obstáculos. Mas, de acordo com o engenheiro, parecia que algo os guiava, levando a equipe à direção correta.
;Tivemos sorte, ou ajuda;, afirmou, atribuindo esse auxílio a Deus. Mas Sougarret também vinculou o sucesso à superstição envolvendo o número 33 ; quantidade de mineiros soterrados, de dias levados pela perfuradora para cavar o túnel e data do resgate que, somada (13/10/10), dá 33. ;Esses números, não sei. Não tenho uma explicação lógica, mas todo mundo se pergunta: por que esses números? Algo nos ajudou: a fé, a oração, a vontade de todo o mundo de que a situação melhorasse...;, disse.
Difícil resgate
A euforia do povo chileno contrasta com o pesar dos equatorianos, que não conseguiram resgatar os quatro mineiros de Portovelo, a 405km de Quito, com vida. Ontem, as equipes tentavam localizar dois trabalhadores soterrados. No sábado, os socorristas acharam dois corpos. ;Trabalhamos como toupeiras, cavamos até com as mãos para abrir pequenas câmaras de ar que nos permitam avançar para tentar chegar aos mineiros;, declarou um dos operários da mina de Casa Negra, perto de Portovelo.
Os escombros, provocados por um desmoronamento ocorrido na sexta-feira, dificultam os trabalhos dos 80 homens que fazem parte da equipe de resgate. No sábado, o ministro de Recursos Naturais Não Renováveis do Equador, Carlos Pareja, disse que os outros dois mineiros poderiam estar vivos: ;Os trabalhos continuarão até que consigamos saber qual é o destino dos outros dois mineiros.;