Israel autorizou ontem novas licitações para construção de moradia para seus cidadãos no setor oriental (árabe) de Jerusalém e provocou indignação dos palestinos, que acusam o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de ;matar qualquer possibilidade de reiniciar as negociações de paz;.
Também foi imediata a reação negativa dos Estados Unidos, que se empenharam no reatamento das conversações diretas entre as partes, depois de dois anos de interrupção. ;Estamos decepcionados com o anúncio de novas licitações em Jerusalém Oriental. Isso contraria nossos esforços;, lamentou em Washington o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley.
O ministério israelense da Habitação decidiu abrir licitações para a construção de 238 casas destinadas à população judaica em dois bairros de colonização no setor oriental, Ramot e Pisgat Zeev. Essas foram as primeiras licitações anunciadas desde 26 de setembro, quando expirou uma moratória de 10 meses adotada pelo governo israelense, a pedido de Washington, para permitir a retomada do diálogo.
;Condenamos firmemente essa decisão e pedimos aos EUA que considerem o governo israelense responsável pelo fracasso das negociações e do processo de paz, devido a sua obstinação (em manter a colonização);, afirmou à agência de notícias France Presse o principal negociador pelo lado palestino, Saeb Erakat. Os palestinos consideram que a continuidade da colonização na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, prejudica o avanço do processo de paz e compromete a viabilidade de seu futuro Estado.
;Esse anúncio é claramente um gesto político destinado a obstruir a retomada das negociações de paz;, concordou a israelense Hagit Ofran, diretora do movimento Paz Agora, que se opõe à expansão dos assentamentos em território palestino. Segundo o jornal israelense Yediot Ahronot, o governo autorizou as licitações depois de ter informado as autoridades americanas a respeito. Washington pressiona Netanyahu para reduzir o alcance das obras.
Em março, o Ministério da Habitação tinha anunciado um importante projeto de construção em outro bairro do setor oriental de Jersualém, coincidindo com a visita do vice-presidente americano, Joe Biden ; o que irritou Washington. Netanyahu viu-se obrigado a pedir desculpas pelo momento escolhido para o anúncio.
Condição
O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, disse esperar que os EUA convençam Israel a decretar uma nova moratória na colonização, medida considerada uma precondição para o prosseguimento das conversações. Abbas insistiu em classificar como ;ilegal; a colonização judaica na Cisjordânia. Durante encontro realizado no último dia 9, a Liga Árabe ratificou a posição de Abbas, mas concedeu um prazo de um mês a Barack Obama para obter uma concessão do aliado israelense.
Israel, na sua Constituição, define Jerusalém como sua ;capital eterna e indivisível;, mas os palestinos querem estabelecer no setor oriental da cidade a capital de seu futuro Estado. Jerusalém Oriental tem uma população de 270 mil palestinos, que convivem com 200 mil judeus israelenses instalados em colônias que se espalham por 12 bairros.