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Venezuela questiona confissão de membros do ETA

MADRI - Caracas tem dúvidas de que a confissão de dois membros do ETA detidos na Espanha tenham sido voluntárias. Os membros do grupo separatista disseram que receberam treinamento na Venezuela em 2008.

"A suposta confissão pode ter sido arrancada irregularmente e, se assim foi, não têm qualquer valor probatório", disse o embaixador venezuelano em Madri, Isaías Rodríguez. Segundo ele, o episódio pode se tratar de "uma estratégia jurídica dos acusados para abrandar sua pena".

Após as declarações de Rodríguez, o chanceler emitiu um comunicado pedindo à imprensa espanhola que respeite "sem manipulações suas declarações e que não as descontextualize para tentar enfrentar dois governos amigos". "Nunca imputamos nem suborno nem tortura ao Estado espanhol", enfatizou no texto.

Nesta terça, o governo espanhol disse que vai exigir a cooperação da Venezuela no caso. "Temos que trabalhar para que a cooperação se traduza em fatos concretos, cumprindo as resoluções judiciais", declarou a vice-presidente do governo, María Teresa Fernández de la Vega.

Juan Carlos Besance Zugasti e Xavier Atristain Gorosabel disseram no interrogatório à Guarda Civil que fizeram "cursinhos de formação" em julho e agosto de 2008 na Venezuela.

A publicação dos autos levou a Espanha a pedir mais informações à Venezuela "dentro da cooperação bilateral na luta antiterrorista" mantida por ambos os países.

Besance e Atristain, membros do comando "Imanol", criado em 2005, estiveram primeiro sob a direção do chefe do ETA, Mikel Karrera Sarobe, em "cursos" na França para aprender a manejar armas e codificar dados na localidade de Luz-Saint-Sauveur (sudoeste).

Mais tarde, ambos teriam recebido instruções para continuar sua formação na Venezuela e entraram em contato com "duas pessoas identificadas como Arturo Cubillas Fontán e José Lorenzo Ayestarán Legorburu".

Durante a prisão de Besance e Atristain na semana passada, no País Basco, a polícia encontrou 100 kg de explosivos, vários detonadores, uma arma e um veículo roubado.

A justiça espanhola suspeita há meses que a Venezuela sirva de esconderijo de membros do ETA, o que levou a Associação de Vítimas do Terrorismo (AVT), uma das principais organizações de vítimas do terrorismo espanhol, a pedir que Madri rompa relações com a Venezuela "se o país não deixar de treinar etarras".

Incidente diplomático
Em março deste ano, um juiz espanhol ordenou a detenção de 12 membros do ETA e das Farc por suposta colaboração e tentativa de assassinato de personalidades colombianas na Espanha. A justiça assinalou, além disso, que a colaboração entre as duas organizações contou com "cooperação governamental" venezuelana. O fato desatou um incidente diplomático e o governo do presidente de Hugo Chávez negou a colaboração.

Chávez chegou a declarar que os "etarras" residentes na Venezuela (muitos chegaram ao país em 1989 em virtude de um acordo com a Espanha) "não estão participando de nenhuma atividade terrorista".

Considerada organização terrorista pela União Europeia (UE), o ETA é responsável pela morte de 829 pessoas em mais de 50 anos de atos violentos pela independência do País Basco.