Ramallah - A obstinação de Israel em reativar a colonização dos territórios palestinos ocupados bloqueia os esforços dos Estados Unidos em impulsionar o processo de paz, disse nesta sexta-feira (1/10) à AFP um alto funcionário palestino, depois de vários dias de negociações.
"Os esforços americanos continuam, mas não tem havido até agora um avanço significativo porque Israel prossegue com a construção nos assentamentos", disse Nabil Abu Rudeina, porta-voz do presidente palestino, Mahmud Abbas.
"O presidente Abbas deixou claro ao senador Mitchell que não serão celebradas negociações enquanto prosseguirem as atividades de colonização", afirmou o porta-voz ao fim da segunda reunião de Abbas com o enviado especial americano para o Oriente Médio, George Mitchell, em 24 horas.
"O governo israelense se mantém em sua postura no que diz respeito à manutenção da colonização", disse à AFP Yasser Abed Rabo, dirigente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). "Nossa postura não mudou: deve-se parar a colonização para que se mantenham as negociações e vamos estudar esta questão no sábado (9/10) com a direção palestina e com os árabes na cúpula de Syrte (Líbia) e tomaremos a decisão apropriada", acrescentou Abed Rabbo.
Os ministros árabes de Relações Exteriores se reúnem em 8 de outubro em Syrte para preparar uma cúpula extraordinária da Liga Árabe, em 9 de outubro.
Mitchell se reuniu também esta sexta-feira, pela segunda vez em 48 horas, com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém.
"O presidente Abbas e o primeiro-ministro Netanyahu aceitaram o fato de que as negociações são a via para uma paz global na região e a manutenção das nossas conversações com cada uma das partes", declarou Mitchell após a entrevista na qual prometeu seguir com os "esforços".
A Alta Representante da União Europeia para Assuntos Externos, Catherine Ashton, qualificou os encontros com Netanyahu de "diálogos construtivos", depois de se reunir também na sexta-feira com o premier palestino, Salam Fayad e com Abbas na véspera. Ela reiterou o chamado da UE a Israel para prorrogar a moratória da construção de casas nas colônias da Cisjordânia.
"Exorto Israel para prosseguir com a moratória para dispor de mais tempo para que avancem as conversações", informou.
Até agora, todas essas questões diplomáticas não permitiram garantir a continuidade das conversações iniciadas há um mês, depois que Israel descartou uma prorrogação da moratória sobre a construção nas colônias judaicas.
Os palestinos estimam que a continuação da colonização despoja de todo sentido as negociações sobre as fronteiras de um futuro Estado palestino na medida em que cria fatos consumados que podem ser irreversíveis.
Para isto se apoiam no Mapa do Caminho, plano de solução internacional do conflito adotado em 2003 pelo Quarteto (EUA, Rússia, UE e Onu), que exige um "cessar total das atividades de colonização" por parte de Israel.
Na sexta-feira, o conjunto da imprensa israelense noticiou que Netanyahu rejeitou uma proposta do presidente americano, Barack Obama, de uma nova moratória de dois meses em troca de uma série de promessas.
Os Estados Unidos teriam prometido entregar a Israel armas sofisticadas, bloquear toda a tentativa de discutir a proclamação de um Estado palestino nas Nações Unidas e apoiar a presença militar israelense no vale do Jordão por um período ilimitado após a constituição de um Estado palestino.
No entanto, a Casa Branca desmentiu na quinta-feira que tivesse enviado uma carta nesse sentido.