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Helicóptero dos EUA mata três soldados paquistaneses. Islamabad revida

Autoridades do Paquistão retaliam impedindo passagem de comboio da Otan

;Nós teremos que ver até que ponto eles são aliados ou inimigos.; A declaração, do ministro do Interior paquistanês, Rehman Malik, foi em resposta ao ataque de um helicóptero da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que matou três soldados do Paquistão na fronteira com o Afeganistão. O governo de Islamabad reagiu à ofensiva aérea fechando a Passagem Khyber, uma área montanhosa que separa os dois países, e impedindo o trânsito de 150 comboios das forças internacionais envolvidas no combate aos extremistas islâmicos do Tehrik-i-Taliban Pakistani (TTP) e da rede Al-Qaeda. ;Suspendemos no momento a entrada dos caminhões de abastecimento da Otan por motivos de segurança;, disse à agência de notícias France-Presse um oficial da unidade paramilitar do Corpo de Fronteira do Paquistão na cidade de Peshawar, sob a condição de anonimato.

Segundo a agência Associated Press, o bloqueio militar deixou 150 caminhões da Otan parados na região. Os veículos transportavam combustível, viaturas militares, roupas e suprimentos para as tropas estrangeiras. A decisão do presidente Asif Ali Zardari estremece ainda mais as abaladas relações com Washington e coincide com a descoberta de um complô terrorista contra a Europa ; iniciado no Waziristão do Norte (noroeste do Paquistão).

A Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf), organismo pertencente à Otan, assegurou que entrou no espaço aéreo paquistanês para se defender de ;disparos inimigos;. Por meio de um comunicado, a Isaf anunciou que seus helicópteros dispararam primeiro contra insurgentes que ;pretendiam; abrir fogo contra uma base perto da fronteira, e que os rebeldes talibãs estariam em território afegão. Segundo o comunicado, um dos helicópteros entrou rapidamente no Paquistão, após ter sido ;alvo de disparos com armas leves, provenientes do lado paquistanês;.

O francês Jean-Charles Brisard, especialista em terrorismo e advogado de familiares das vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001, acredita que a crise envolvendo Islamabad e o Ocidente pode esconder uma oportunidade. ;Essa situação tornará mais difícil a guerra contra o terror, mas abrirá um debate sobre a necessidade de se expandir as operações da Otan no Paquistão;, afirma, pela internet. ;Em muitos pontos, o bloqueio da fronteira é uma medida ruim e contraproducente, tanto para o Paquistão quanto para a guerra ao terror;, emenda. Para Brisard, é importante que o governo de Zardari esclareça e reafirme sua posição ante a comunidade internacional. ;Se fracassar, os Estados Unidos e outros países ocidentais desenvolverão sua própria estratégia no Paquistão.;

Um cenário perigoso para Zardari, que vê a paciência se esgotar após uma série de erros cometidos pela Otan no Afeganistão e depois de bombardeios não tripulados realizados pelos Estados Unidos no Paquistão. Por e-mail, o paquistanês Hasan-Askari Rizvi, estrategista militar da Universidade do Punjab (em Lahore), esboçou uma posição menos pessimista. Ele duvida que os ataques com helicópteros norte-americanos no país se tornem constantes. ;O impacto adverso nas relações bilaterais será mínimo. Após uma reação negativa inicial, Washington e Islamabad esfriarão os ânimos e trabalharão em harmonia;, prevê. De acordo com Rizvi, a capacidade dos EUA de combater o terrorismo não será afetada. ;Apesar das diferenças de estratégia na luta contra os extremistas, paquistaneses e norte-americanos precisam uns dos outros.; Brisad concorda e acha que o Paquistão manterá um equilíbrio entre o envolvimento necessário na guerra ao terror e a complacência em relação aos radicais islâmicos.

Conspiração
O jornal britânico Daily Telegraph revelou detalhes da conspiração que atingiria Londres e cidades da Alemanha e da França. Segundo o jornal, dois irmãos do Reino Unido foram rastreados pelos serviços de inteligência do Paquistão por cerca de um ano. Um deles, Abdul Jabber, morreu em um bombardeio americano a uma região tribal, no dia 8. ;Eles faziam ligações para a Alemanha e para Londres. Falavam sobre a logística de que precisavam para atacar;, comentou um oficial paquistanês. O plano envolveria 10 extremistas fortemente armados.