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Colonos ameaçam diálogo com palestinos a poucas horas do fim da moratória

Os colonos israelenses estão dispostos a voltar a construir na Cisjordânia quando expirar, à meia-noite deste domingo, a moratória parcial que proíbe fazê-lo, enquanto no campo diplomático se busca uma saída de última hora que permita salvar as negociações de paz israelenses-palestinas.

Até o último minuto, o governo americano mantém os esforços para evitar o fracasso prematuro das conversações, menos de um mês depois de iniciadas, em Washington.

"Continuaremos exortando, exortando, pressionando durante todo o dia para obter uma resolução" sobre a questão da colonização, disse David Axelrod, principal conselheiro do presidente americano, Barack Obama, que pediu solenemente a continuidade da moratória e das conversações.

O conselheiro disse que a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, mantém o diálogo entre as duas partes.

Apesar dos apelos, nos Territórios Ocupados, os colonos garantem ter mobilizado dezenas de escadeiras, com o firme propósito de recomeçar as obras na noite deste domingo.

Em uma colônia da Cisjordânia, dezenas de colonos defensores da retomada das construções puseram a primeira pedra de uma futura creche que planejam erguer, durante uma manifestação simbólica.

Outra manifestação simbólica foi organizada na colônia vizinha de Revava.

O deputado Danny Danon, que pertence à ala ultraconservadora do partido Likud, do premier Benjamin Netanyahu, exortou o chefe de governo "a ser forte e resistir às pressões americanas para prorrogar a moratória".

"A mensagem de Judeia e Samaria (nome bíblico da Cisjordânia) vai para o primeiro-ministro. Dizemos a ele: ;permanece fiel ao caminho traçado pelo Likud, resiste às pressões do presidente (americano, Barack) Obama e continua construindo em todas as partes;", afirmou o deputado do Likud.

Preocupado com o impacto internacional que podem ter as imagens de escavadeiras, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu este domingo aos colonos judeus "moderação" e "responsabilidade".

Embora se considere que a proibição expira à meia-noite local (19h00 de Brasília), os colonos afirmam que começarão a construir ao cair do sol, exatamente às 17h29 locais (12h29 de Brasília).

Apoiados pela ala direitista do Likud, o partido de Netanyahu, os colonos preveem colocar a primeira pedra de um novo bairro em Kiryat Netafim, assentamento do norte da Cisjordânia, na tarde deste domingo.

"Da mesma forma que o congelamento foi total, a retomada das construções deve ser total, como prometeu o governo", avisou Danny Dayan, líder da Yesha, principal organização dos colonos da Cisjordânia.

Os colonos também organizam uma contagem regressiva, na noite deste domingo, e os militantes do Likud dizem ter mobilizado uma centena de ônibus que percorrerão a Cisjordânia, em solidariedade aos colonos.

O partido ultranacionalista Israel Beitenu e o Shass, formação ultraortodoxa, os dois principais aliados do Likud, também se opõem à prorrogação da moratória.

Em contraposição a eles, o secretário-geral do movimento anticolonização Paz Agora, Yariv Oppenheimer, estimou que "o congelamento quase total da construção demonstra que o governo dispõem de meios para deter os colonos".

Segundo a rádio pública israelense, as obras de mais de 1.500 moradias que conseguiram todas as permissões necessárias das autoridades israelenses podem começar "imediatamente".

Na frente diplomática, os Estados Unidos prosseguiam os intensos esforços para alcançar um acordo de última hora.

Para salvar as negociações diretas, retomadas em 2 de setembro, em Washington, após uma interrupção de 20 meses, a comunidade internacional, com Obama à frente, solicitou expressamente a Netanyahu a prorrogação da moratória.

Em resposta, Israel se declarou "disposto a conseguir um compromisso", mas repetiu que "não poderia haver construção zero" nas colônias.

O presidente palestino, Mahmud Abbas, por sua vez, que conta com o apoio da Liga Árabe, rejeitou até agora qualquer "solução parcial" que não garanta o "cessar total" da colonização.

Abbas anunciou, este domingo, em Paris, onde está atualmente para encontro na segunda-feira com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que a Liga Árabe se reunirá por inciativa sua, em 4 de outubro, para analisar a continuidade das negociações de paz.

Israel deve "escolher entre a paz e a continuidade da colonização", disse Abbas no sábado à ONU.

"Netanyahu sob pressão deve escolher entre Obama e as escavadeiras", intitulou este domingo o jornal Maariv, enquanto o popular Yediot Aharonot se questionou quem, "entre Obama, Netanyahu e Abbas, será o primeiro a ceder".

"Na verdade, nenhum deles, pelo menos imediatamente. O que vai se dissipar é a possibilidade, por mínima que tenha sido, de progredir para um acordo israelense-palestino", avaliou o editorialista do Yediot.