Jornal Correio Braziliense

Mundo

Fim da moratória ameaça diálogo entre israelenses e palestinos

No último dos 305 dias de moratória sobre as construções em assentamentos judaicos na Cisjordânia, a diplomacia norte-americana concentrou todos os seus esforços para conseguir um acordo, entre representantes israelenses e palestinos presentes em Nova York, que não colocasse em risco as negociações de paz reiniciadas em setembro. Certos de que poderiam conseguir uma solução para o impasse até hoje, os Estados Unidos chegaram a pedir que Israel estendesse o fim do congelamento, previsto para a meia-noite de ontem, em mais 24 horas. O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, no entanto, alertou mais uma vez que não se contentará com uma ;solução parcial; para a questão das construções em territórios ocupados por palestinos. Até o fechamento desta edição, as partes não haviam divulgado qualquer decisão sobre o problema.

;Israel precisa escolher entre a paz e continuar com os assentamentos;, disse Abbas ontem, em discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Segundo ele, para restabelecer a credibilidade do processo de paz, é preciso que Israel ;cumpra com seus compromissos, particularmente o de cessar todas as atividades nos assentamentos;. O líder palestino, que se reuniu com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, na última sexta-feira, sofre forte pressão de Washington para não desistir das negociações, mesmo no caso de uma possível recusa israelense em prorrogar o prazo de congelamento nas construções. O governo de Benjamin Netanyahu, por sua vez, tem sido pressionado a manter, de alguma maneira, a suspensão às obras de expansão de colônias judaicas na Cisjordânia.

Atrás de uma fórmula de consenso com os israelenses, diplomatas americanos sugeriram algumas opções para a delegação israelense, liderada em Nova York pelo moderado ministro da Defesa, Ehud Barak, e o negociador de Netanyahu, Yitzhak Molcho. Uma delas prevê que a moratória seja suspensa, mas exige que todos os colonos que planejam construir requisitem novamente suas licenças ; o que deixaria as construções paradas por mais alguns meses. Os israelenses, no entanto, já descartaram essa solução. Outra sugestão é que o embargo à expansão continue pelo menos por mais três meses, mas que sejam permitidas algumas poucas construções. A ideia não agradou nem um pouco os colonos e a ala mais conservadora do espectro político israelense.

;Abertamente;
O deputado do Likud Danny Danon, um dos grandes defensores dos assentamentos no Knesset (Parlamento de Israel), disse ontem que os colonos pretendem lançar hoje mesmo a pedra fundamental de um novo bairro no assentamento de Revava (norte da Cisjordânia). ;A construção começará amanhã (hoje) à tarde e continuará na segunda-feira;, disse Danon. O vice-governador palestino na região, Nawaf Souf, confirmou a intenção dos colonos, que já levaram equipamentos de construção e cerca de 30 ;casas móveis; (espécie de imóvel pré-montado) para Revava nos últimos dias. ;No momento em que o congelamento for suspenso, eles vão fazer o trabalho abertamente;, afirmou.

A moratória, anunciada em 25 de novembro de 2009, com duração de 10 meses, se aplica às colônias da Cisjordânia ocupada, onde vivem cerca de 300 mil colonos israelenses, mas não às obras iniciadas antes do congelamento, nem às construções de prédios públicos, como escolas e sinagogas. Jerusalém Oriental também não está incluída no congelamento. Segundo o movimento anticolonização A Paz Agora, pelo menos 13 mil casas podem ser construídas nas colônias depois da expiração da moratória. Fontes do governo de Israel falam em ;apenas; 2 mil.

Ontem à tarde, 250 palestinos marcharam em Hebron, contra o fim da moratória, em claro prenúncio da nova confusão que se avizinha ; a depender da decisão tomada pelo governo israelense.