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Côlombia sonha com desarmamento negociado com as Farc e a paz para o país

À margem da inevitável euforia nos meios oficiais pelo ataque certeiro contra o chefe militar das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o temido Mono Jojoy, o que os observadores do conflito armado aguardam com expectativa são as primeiras manifestações do líder máximo da guerrilha, Alfonso Cano. Dos mais governistas aos mais críticos em relação à política de segurança máxima e guerra total, iniciada nos oito anos de mandato de Álvaro Uribe e seguida por Juan Manuel Santos, analistas e porta-vozes dos setores políticos mais distintos são praticamente unânimes: entra na ordem do dia a necessidade urgente de encontrar caminhos para negociar o desarmamento das Farc.

;O governo de Juan Manuel Santos tem clareza sobre a situação. Por isso, ao mesmo tempo em que continua com a ofensiva militar, oferece possibilidades de negociação, porém com exigências peremptórias;, avalia León Valencia, ex-guerrilheiro do Movimento 19 de Abril (M-19), desmobilizado há duas décadas. ;Talvez a morte de Jojoy seja presságio de um destino de reconciliação para o país;, escreveu Valencia, que hoje integra a Corporação Novo Arco-Íris, dedicada a estudar o conflito e projetar soluções para a população deslocada e a reinserção civil dos ex-combatentes.

;Quem sabe essa morte nos conduza finalmente ao diálogo;, concorda a senadora oposicionista Piedad Córdoba, defensora ardorosa de uma saída negociada para meio século de guerra. Piedad, à frente do movimento Colombianos e Colombianas pela Paz, foi peça fundamental para acordos pontuais que permitiram a libertação de alguns grupos de reféns da guerrilha. Como ela, outros representantes da sociedade civil veem na questão dos sequestrados o fio da meada para abrir caminho a um processo de paz.

Praticamente coincidindo com a posse de Juan Manuel Santos, em agosto, o comandante supremo das Farc, Cano, divulgou comunicado dirigido ao novo governo. Santos, como ministro da Defesa no governo anterior, foi responsável por uma série de duros golpes impostos aos rebeldes, incluindo o resgate militar da ex-presidenciável Ingrid Betancourt e a morte de homens vitais na cadeia de comando, inclusive dois integrantes do até então inexpugnável secretariado (leia quadro). Ainda assim, e ; de maneira surpreendente ; sem reiterar as condições fixadas durante os anos Uribe, Cano propôs a Santos: ;Conversemos;.

Realismo
Na análise de León Valencia, Cano, um antropólogo da Universidade Nacional com sólida formação político-teórica e três décadas na luta armada, demonstra em seus comunicados ter consciência de que as Farc já não têm a perspectiva real de chegar ao poder. ;A agenda é limitada, uma proposta que reflete realismo quanto à debilidade (das Farc).; O estudioso da Nova Arco-Íris observa que Cano, diferentemente de Jojoy, parece ter sabido adaptar as tropas sob seu comando direto à nova realidade da superioridade estratégica obtida pelas Forças Militares, graças aos dólares do Plano Colômbia.

Nem por isso, no entanto, o Estado deve dar a guerra por encerrada ou próxima do fim, como avalia o ex-presidente Ernesto Samper (1994-1998), em cujo mandato o Exército sofreu suas mais sérias derrotas para as Farc ; em especial, para as unidades sob chefia direta do Mono Jojoy. ;A morte dele não deve levar ninguém a pensar que a guerra acabou, ao contrário: as Farc têm espaço para se reconstituir;, alertou Samper em entrevista à TV venezuelana Telesur. ;O momento é de agir com calma e serenidade, oferecer uma saída política às Farc.;