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Oposição busca o controle da Assembleia para impedir reeleição de Chávez

O voto na Venezuela não é obrigatório, mas tanto o governo do presidente Hugo Chávez quanto a oposição esperam que os eleitores compareçam às urnas, neste domingo (26/9), para escolher os 165 deputados da Assembleia Nacional e os 12 representantes do Parlamento Latino Americano (Parlatino). ;A eleição marcará nosso rumo político. Dependendo do resultado, pode-se escolher entre a democracia e o comunismo;, disse ao Correio Víctor Márquez, presidente da Associação de Professores da Universidade Central da Venezuela (AP-UCV). ;As maiores votações se obtêm para presidente;, lembrou. ;Na última, tivemos 70% de comparecimento (entre 17 milhões de eleitores) e, na de hoje, já se fala em 80%;, estima Márquez.

As eleições legislativas funcionam como termômetro para o pleito presidencial de 2012, para o qual Chávez já confirmou candidatura. ;Temos a obrigação de ganhar as eleições. Nunca mais perderemos;, afirmou o mandatário, na semana passada. O objetivo é conseguir dois terços das cadeiras em jogo, para seguir adiante com a Revolução Bolivariana, marcada pelo ;socialismo do século 21;. Na sexta-feira, Chávez afastou a possibilidade de fraudes no processo. ;Ninguém pode dizer, a menos que seja um irresponsável, que exista uma fraude montada (...) Não há possibilidade de uma fraude;, reclamou.

Para o representante dos professores da UCV, o mais importante é que o governo deixe de ter a maioria absoluta no Congresso. Márquez espera que não se repita o que ocorreu em 2005, quando a oposição se absteve de concorrer ; sob a alegação de falta de garantia e de transparência ; e entregou todas as cadeiras aos representantes de Chávez. ;Porque (esse Parlamento chavista) cria um conjunto de leis que não representa a totalidade da sociedade e, ao mesmo tempo, lhe permite nomear o Procurador-Geral da República, o defensor do povo, o Tribunal Supremo de Justiça, o Conselho Nacional Eleitoral; Esperamos que o monopólio se rompa;, afirma Márquez.

De acordo com a última pesquisa de opinião do Grupo de Investigação Social (GIS XXI), realizada entre 26 de agosto e 4 de setembro, a aliança governista formada pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e pelo Partido Comunista da Venezuela (PCV) ficaria com a maioria da Assembleia Nacional em três cenários possíveis, com uma vantagem apertada de até quatro pontos percentuais. Na última simulação, a casa se dividiria pela metade entre chavistas e opositores.

Márquez ressalta que a oposição reúne partidos de direita e de esquerda marxista, que consideram o projeto de Chávez ;fascista, de caráter autoritário e não democrático;. ;Eu não segui um homem, segui um projeto que está na Constituição;, disse à agência France-Presse o deputado Juan José Molina, do partido dissidente de esquerda Podemos, representado por seis parlamentares. ;A esquerda venezuelana pode funcionar sem Chávez. Ele não é um homem de esquerda, é um autocrata com fixação pelo poder;, completou Molina. Esses políticos, porém, são vistos pelo chefe de Estado como ;traidores condenados ao fracasso;. ;Eles dizem que são verdadeiros democratas e que eu sou um autoritário. São traidores, defensores do império e da burguesia;, disse Chávez.

O professor de psicologia da UCV denuncia um mal-estar no país. ;Aqui acaba a luz todos os dias e vemos protestos de vários setores da sociedade. Há greve de fome por descumprimento de contrato de trabalho e por demissões injustificadas. As instituições universitárias de caráter autônomo são atacadas. As medidas da Assembleia Nacional, sob controle férreo do partido do governo, vão eliminando a propriedade privada, violentando o estado de direito ou a Constituição;, protesta Márquez.

Dividir para conquistar
Em janeiro, o governo redistribuiu as zonas eleitorais, unificando-as ou separando-as, para supostamente aproximar o eleitor de seu local de votação. A oposição alerta que a mudança foi uma estratégia para favorecer o PSUV. Distritos controlados pelo governo foram divididos. ;Nesse distrito pode ganhar a oposição? Pois, então, vamos juntá-lo com outro onde há apoio dos setores do governo, a fim de mudar a correlação de forças;, criticou o professor de psicologia da UCV. ;As minorias não têm chance de entrar no Congresso. Ou os partidos pequenos se incorporam aos grandes blocos ou não têm representação;, concluiu Márquez.