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Ahmadinejad domina as atenções em Nova York às vésperas da Assembleia Geral

Nos debates, que começam hoje, Brasil deve apoiar iniciativa da Rússia para impedir que Estados Unidos e outros adotem sanções unilaterais

Desde que chegou a Nova York, no início da semana, o presidente Mahmud Ahmadinejad tem conseguido atrair todas as atenções para o Irã, ao falar sobre seu programa nuclear e as sanções aplicadas pela ONU, sobre a libertação de dois turistas americanos presos em seu país e até uma acenando com uma aproximação aos Estados Unidos. Segundo Ahmadinejad, é fácil reatar as relações, rompidas há mais de 30 anos: a única condição, de sua parte, é que os EUA ;respeitem a nação iraniana e as condições de igualdade;. Ele também afirmou que não descarta libertar os dois americanos, assim como já fez com a outra turista, em um gesto ;de clemência e compaixão;. Em relação a Israel, no entanto, a retórica continua a mesma, de culpar o Estado judeu por afastar Teerã de Washington e classificr o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como um ;assassino habilidoso;.

As declarações, grande parte delas feita ao jornalista Larry King, apresentador de um dos mais populares talk shows da TV americana, só fizeram aumentar as expectativas para o discurso de hoje do iraniano, nos debates da Assembleia Geral das Nações Unidas. No programa de Larry King, que é de família judaica, Ahmadinejad disse que Netanyahu deveria ser julgado por ;matar mulheres e crianças; e reafirmou que seu país não quer armas nucleares. ;Não estamos buscando a bomba, não acreditamos que seja útil. A ameaça para o mundo são as bombas que o governo dos EUA e o regime sionista possuem;, declarou.

Foram essas as palavras mais críticas de Ahmadinejad sobre os anfitriões. Até então, ele se mostrava aberto ao diálogo e à reconciliação. ;Basta que os Estados Unidos respeitem a nação iraniana e as condições de igualdade para restabelecer as relações diplomáticas entre os dois países;, declarou o iraniano durante uma videoconferência com estudantes e professores de 12 universidades americanas. Ahmadinejad vê ;chance; para a libertação dos outros dois turistas americanos detidos em território iraniano sob acusação de espionagem. ;Há uma possibilidade , mas o juiz deve se ocupar do caso;, disse, acrescentando que ele ;sugeriu; a libertação de Sarah Shourd, na última semana, mas que ;não teve influência; sobre o processo legal.

O chanceler brasileiro, Celso Amorim (1), que na última terça-feira foi procurado por Sarah, pediu um encontro com Ahmadinejad, na noite de ontem, para tratar, entre outros assuntos, da libertação dos outros dois americanos. Sarah agradeceu a Amorim o apoio o governo brasileiro à sua libertação e pediu intercessão pelos dois outros. ;Eu prometi que nós continuaríamos a nos interessar pelo assunto. Mas, nessas coisas, você tem que encontrar o melhor caminho, que tenha realmente resultados, e não o caminho da estridência, da condenação;, disse o chanceler brasileiro.

Possibilidade remota

Para o especialista John Tirman, da Massachusetts Institute of Technology, as declarações sobre uma possível reaproximação entre Irã e EUA serão em vão se os dois lados não cederem. ;Os EUA devem suspender as sanções que não têm relação com a questão nuclear. Já o Irã deve cumprir com as normas internacionais em relação a seu programa nuclear;, opina Tirman. ;E, para muitos americanos, Ahmadinejad é alguém com quem não se deve conversar até que ele suspenda sua retórica beligerante contra Israel e o povo judeu;, acrescenta.

Em um comunicado ao qual a agência France Presse teve acesso, e que deverá ser divulgado durante a Assembleia, EUA, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha (que formam o grupo 5 1) se comprometem a ;buscar uma solução negociada rápida para a questão nuclear iraniana;. A Rússia também deve apresentar uma resolução que ;desaconselha; sanções unilaterais, a exemplo das que foram aplicadas recentemente pelos EUA e pela União Europeia contra Teerã. Segundo Amorim, Brasil, Índia e China (que formam com a Rússia a articulação dos Brics) já se comprometeram a apoiar a iniciativa.

1 - Grande parceria
O fundador da Microsoft, Bill Gates, falou ontem ao chanceler Celso Amorim sobre seu desejo de trabalhar com o Brasil para ajudar países mais pobres, principalmente na África. Gates, que mantém com a mulher a organização filantrópica Bill & Melinda Gates Foundation, afirmou, após o encontro dos dois em Nova York, que desejar utilizar a ;expertise; do Brasil em outros países, principalmente nas áreas de saúde e agricultura. ;Houve algumas discussões concretas com as companhias de vacinação e com os experts em agricultura (no Brasil);, disse. Amorim, por sua vez, afirmou que o bilionário está interessado na capacidade técnica desenvolvida em centros como a Embrapa, a Fiocruz e o Instituto Butantã. ;E também a maneira de levar um serviço à população, como no caso da vacinação em massa;, detalhou. ;Isso é o começo de uma grande parceria;, completou o chanceler brasileiro.