Uma semana depois de anunciar o plano de demissão de 500 mil funcionários públicos, o presidente cubano, Raúl Castro, resolveu enxugar também a cúpula do governo, por ;ineficiência;. O Conselho de Estado, em concordância com o Birô Político do Partido Comunista e o Comitê Executivo do Conselho de Ministros, decidiu demitir a titular da Indústria de Base, Yadira García Vera. A nota oficial destaca que ela foi ;liberada; do cargo ;atendendo a deficiências; em seu trabalho, ;refletidas de maneira particular no fraco controle sobre os recursos destinados ao processo investidor e produtivo; do setor. O texto também indica que, enquanto o novo ministro é escolhido, o ministério ficará a cargo do ;companheiro primeiro vice-ministro; Tomás Benítez Hernández.
A mudança no gabinete se soma à lista que Raúl Castro iniciou em fevereiro de 2008, quando assumiu a presidência como efetivo ; ele substituía desde 2006 o irmão Fidel, que se retirou por problemas de saúde. O último ministro a deixar o governo foi José Ramón Balaguer Cabrera, da Saúde Pública. Em março de 2009, Raúl fez a reestruturação mais profunda da década, com a ;liberação; de quatro vice-presidentes e oito ministros ; entre eles o vice-presidente Carlos Lage e o chanceler Felipe Pérez Roque, que estão entre os mentores da ;atualização; do socialismo cubano e ajudaram a planejar o corte de gastos, inclusive a demissão em massa no Estado.
Antes de tornar-se ministra, Yadira ; venezuelana de nascimento, naturalizada cubana ; foi escolhida por Fidel para cuidar do caso do menino Elian González, como encarregada de coordenar as gestões na batalha judiciária pela custódia do menino, entre os parentes de Miami e o pai, morador da província cubana de Matanzas. Engenheira química, hoje com 55 anos, a agora ex-ministra passou a ocupar a pasta da Indústria de Base em outubro de 2004. O antecessor, Marcos Portal Leon, foi criticado pelos apagões de eletricidade na ilha. Quando Yadira assumiu, o jornal oficial Granma apresentou-a como uma ;jovem mas experiente líder do partido;, além de ;modesta, capaz e eficiente;.
Cooperação brasileira
Estavam sob a responsabilidade da ministra três setores da economia ; energia, mineração e indústria química ; nos quais empresas brasileiras demonstraram interesse em investir, além dos setores de agricultura e infraestrutura. As últimas visitas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro, do ministro Miguel Jorge, em abril, e do chanceler Celso Amorim, na semana passada, tiveram como objetivo colocar o Brasil como ;parceiro número um; de Cuba. A exploração e exportação de níquel, uma das joias da pasta da Indústria de Base, interessou à mineradora Votorantim. Já a exploração petrolífera da plataforma continental cubana no Golfo do México ganhou a atenção da Petrobras, que busca se unir a um projeto de sete empresas para explorar jazidas em águas profundas.
Falando ontem à imprensa em Nova York, Amorim destacou que o governo cubano não pediu ;ajuda; ao Brasil, mas que os dois países mantêm ;uma cooperação intensa;. ;Esse processo de evolução em Cuba é um processo que também aumenta as oportunidades e a necessidade, provavelmente, de uma cooperação de países como o Brasil;, disse o ministro, comentando as últimas medidas anunciadas pelo governo de Raúl, como o fim gradativo da cartilha de racionamento e a recolocação de funcionários públicos na iniciativa privada. ;O Brasil poderá dar uma extraordinária cooperação no domínio da pequena e média empresa e no domínio dos empresários individuais. Por motivos diversos dos cubanos, nosso problema não é o inchaço da máquina pública, mas também precisamos desenvolver o empreendedorismo;, concluiu o ministro.