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Colômbia estuda mudanças na política de segurança para conter violência

Ao pé das montanhas de Medellín, a Comuna 13 é uma favela que coloca em xeque não apenas a política de segurança da segunda maior cidade da Colômbia, mas do país inteiro. No início deste mês, seus 134.472 habitantes receberam a visita do presidente Juan Manuel Santos, empossado um mês antes. "Foi uma surpresa. Ninguém esperava ver o presidente caminhando pelas ruas", conta ao Correio, por telefone, o cantor Camilo Mosquera, morador da comunidade. Ao mesmo tempo, ele diz que "as pessoas esperam muita coisa do novo governo, principalmente a Comuna 13, que anda assustada com a nova onda de violência". Na última década, Medellín tornara-se símbolo de recuperação de um território urbano pelo poder público, e agora Santos encomendou uma revisão geral da política, para determinar o que deixou de funcionar. De janeiro a julho, 2.266 habitantes de Medellín, 400km a noroeste de Bogotá, abandonaram seus lares assediados pela violência. No período, a cidade registrou 1.250 assassinatos. Durante a visita, Santos prometeu convocar mais 400 policiais - da própria comunidade - para enfrentar o recrudescimento do crime organizado, que parecia sob controle no governo anterior. "A Segurança Democrática, de Álvaro Uribe, tinha enorme debilidade no tema urbano, porque foi pensada para recuperar o território rural, onde estão os guerrilheiros e paramilitares", explica à reportagem o professor Jorge Iván Cuervo, da Universidad Externado. "No processo de desmobilização dos paramilitares, muitos regressaram às cidades, com armas, experiência, capacidade de reorganização e vínculos com o narcotráfico", indica Cuervo. O professor destaca que a Segurança Democrática não previu uma resposta ao fenômeno que "o governo chama eufemisticamente de bandos criminosos e bandos emergentes", mas que continuam sendo as mesmas estruturas paramilitares ligadas ao narcotráfico e às guerrilhas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) - todos empenhados em controlar rotas para exportar cocaína para os Estados Unidos (via México) e a Europa (via América Central). "Antes havia certa paz, porque todas as estruturas armadas dependiam de Don Berna, um chefe paramilitar que foi extraditado aos EUA. Agora, gente de seu grupo disputa o território do Urabá, que tem saída para o mar. Chegou ainda um grupo chamados 'urabenhos', que são os herdeiros da estrutura armada paramilitar de Don Mario, recém-capturado pelo governo. E setores do Cartel do Norte do Vale também querem se fazer presentes lá", enumera o especialista colombiano. Além das rotas, Cuervo ressalta que existe "toda uma indústria ao redor". "O microtráfico, a extorsão, a segurança privada que se oferece%u2026 O que acontece na Comuna 13 é muito parecido com o que acontece nas favelas do Rio de Janeiro", conclui. Nova política Santos visitou a Comuna 13 no último dia 9, acompanhado do ministro da Defesa, Rodrigo Rivera, e do diretor da Polícia Nacional, general Oscar Naranjo. A ordem do dia foi convocar os moradores para denunciar os criminosos. "A comunidade pode servir de fonte de informação, mas também de inspiração, para mostrar como o governo pode melhorar as coisas", disse Santos. Para o analista Hugo Acero, o trabalho de conseguir informação criminal para julgar as gangues que operam nas comunas deveria corresponder aos organismos de inteligência, especialmente à polícia e à promotoria. "É muito difícil, além de perigoso, colocar essa tarefa para os cidadãos, como propõe o presidente", opina Hugo Acero. Para o especialista, seria mais seguro criar uma polícia comunitária que visite todas as casas três vezes por semana, de maneira a não criminalizar toda a sociedade e não permitir que os bandidos saibam quem os delatou.