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Atentados e acusações de fraude marcam eleições legislativas afegãs

CABUL - Atentados e disparos de foguetes efetuados pelos talibãs causaram a morte de pelo menos 14 pessoas e marcaram as eleições legislativas neste sábado no Afeganistão, que terá seu êxito avaliado dependendo da taxa de participação e da magnitude das fraudes.

"Três policiais morreram e 13 ficaram feridos, onze civis morreram e 45 ficaram feridos" nesses ataques, declarou o ministro do Interior, Besmula Mohamadi, em uma entrevista coletiva à imprensa.

Sete pessoas morreram em ataques com foguetes que tiveram como alvo colégios eleitorais da província de Nangarhar (leste), segundo autoridades locais. Outras três pessoas ficaram feridas ao serem atingidas por três disparos de foguete na província de Kunar (leste).

Os talibãs reivindicaram 150 ataques contra diferentes centros de votação, mas tendem a exagerar os registros de suas operações.

No plano político interno, as eleições legislativas por voto universal, que são realizadas pela segunda vez desde a queda dos talibãs em 2001, têm uma importância relativa, já que o poder real está nas mãos do presidente Hamid Karzai.

Karzai passou a ocupar a Presidência apoiado pela comunidade internacional no final de 2001 e foi mantido, principalmente, graças aos Estados Unidos, apesar das acusações de corrupção contra o governo e das fraudes que permitiram que fosse reeleito há mais de um ano.

As eleições são importantes para a comunidade internacional no momento em que, diante dos questionamentos relacionados ao envio de tropas ao país, as potências ocidentais indicaram que a retirada dos 144.000 militares, em sua maioria americanos, será realizada a partir de julho de 2011.

As baixas das forças internacionais atingem níveis recorde, com 512 mortos desde o começo do ano, depois de um ano de 2009 particularmente violento, com 521 mortos.

Mais de 10,5 milhões de afegãos devem eleger 249 deputados de um total de 2.500 candidatos. Estão reservados para as mulheres 68 assentos.

Além da ameaça dos talibãs de atacar centros de votação, candidatos, organizadores e qualquer eleitor que não tenha obedecido a sua ordem de boicotar as eleições, dois temas preocupam a comunidade internacional: o índice de participação -- (30% na eleição presidencial de agosto de 2009) -- e a fraude.

O presidente da Comissão Eleitoral nomeada por Karzai, Fazil Ahmad Manawu, anunciou após o fechamento dos centros eleitorais que a participação é estimada em 40%, segundo dados preliminares.

O chefe da missão da ONU no Afeganistão, Staffan de Mistura, fez um "balanço moderado" das eleições, ressaltando à rede britânica BBC que a segurança não foi "boa".

Apesar dos problemas, o comando da Otan destacou que foram registrados menos atos de violência durante as eleições legislativas do que durante a eleição presidencial de agosto de 2009, embora os ataques desta vez tenham sido mais violentos.

A Comissão de Queixas Eleitorais (ECC) registrou irregularidades em pelo menos dois centros eleitorais de Cabul.

Às vésperas das eleições, os talibãs sequestraram 18 pessoas - 10 partidários de um candidato e oito funcionários da comissão eleitoral encarregada de organizar o processo eleitoral - no noroeste. Um candidato foi sequestrado no oeste de Cabul.

Os resultados definitivos oficiais serão divulgados apenas a partir de 31 de outubro.