A polícia britânica prendeu nesta sexta-feira (17/9) cinco pessoas em Londres sob a suspeita de tramar um "ato de terrorismo" relacionado com a visita do papa Bento XVI, que em seu segundo dia no Reino Unido deve tentar estreitar os laços com a Igreja Anglicana. Os cinco homens com idades entre 26 e 50 anos foram detidos pouco antes das 6h (2h de Brasília) no centro de Londres sob a suspeita de planejar, preparar ou instigar atos de terrorismo.
A Scotland Yard informou que após as detenções, os dispositivos de segurança para a visita do Papa foram revisados e "continuam sendo apropriados" e que o itinerário não foi modificado. Bento XVI está tranquilo e confia na polícia, declarou pouco depois o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, para quem "a situação não é particularmente perigosa".
Os detidos estão sendo interrogados. Segundo o conselho municipal de Westminster, são garis que trabalham para uma empresa de limpeza privada. O canal de televisão Sky informou que os suspeitos são argelinos.
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A Scotland Yard não explicou no que consistia a ameaça, nem tampouco se estava diretamente dirigida contra o pontífice, que tem muitos atos civis e políticos programados na Inglaterra até domingo, incluindo duas cerimônias que devem atrair milhares de pessoas. Além da polícia, o porta-voz do Vaticano também considerou que não é necessário alterar o programa do papa, que nesta sexta-feira inclui vários atos simbólicos com o líder da Igreja Anglicana e um discurso à sociedade civil britânica.
Santos do século XXI
Em um ato pela manhã para 5.000 jovens e professores na universidade londrina de St. Marys de Twickenham, Bento XVI pediu aos alunos das escolas católicas britânicas que sejam os "santos do século XXI". "Quando os convido a ser santos, peço que não persigam uma meta limitada. Ter dinheiro não é suficiente para torná-los felizes. Estar altamente qualificado em determinada atividade ou posse é bom, mas isso não os encherá de satisfação, a menos que aspiremos algo ainda maior. Chegar à fama não nos faz felizes", recordou.
Os eventos mais importantes do dia dedicado a estreitar as relações ecumênicas e estimular o papel da religião em um mundo cada vez mais laico acontecerão à tarde.
Pela primeira vez na história, o pontífice será recebido pelo arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, chefe espiritual de 70 milhões de anglicanos no mundo, em sua residência oficial londrina de Lambeth Palace.
Após o encontro privado, se reunirão com bispos das duas igrejas, que têm um relacionamento historicamente tenso desde que Henrique VIII rompeu com Roma e se autoproclamou chefe da Igreja da Inglaterra em 1534.
Anglicanos descontentes
A situação ficou ainda mais tensa no ano passado quando o papa anunciou novas medidas para facilitar a conversão dos anglicanos descontentes com a abertura de sua igreja.
Ambos também participarão em uma cerimônia de oração na Abadia de Westminster, para qual foram convidados representantes de todas as igrejas cristãs presentes no Reino Unido, o maior encontro ecumênico da visita.
Mas as autoridades eclesiásticas também dão grande importância ao discurso que Bento XVI pronunciará no histórico Westminster Hall, o edifício mais antigo do Parlamento britânico, para líderes políticos, empresariais e do mundo da cultura, incluindo os ex-premieres Margaret Thatcher, Tony Blair e Gordon Brown.
O papa deve parar no local onde São Sir Thomas Moore, lorde chanceler de Henrique VIII, foi acusado em 1535 de alta traição por ser contrário aos planos do monarca de virar chefe supremo da Igreja da Inglaterra.