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Em visita ao Reino Unido, Bento XVI compara não crentes a nazistas

Diante da rainha Elizabeth II, governadora suprema da Igreja Anglicana, o papa Bento XVI começou sua visita de quatro dias ao Reino Unido envolvendo-se em uma nova polêmica, além da cobrança de ingressos para suas missas. Em uma cruzada contra o secularismo, o líder dos católicos chegou a comparar os ateus aos nazistas. ;Mesmo em nossos tempos, podemos relembrar como o Reino Unido e seus líderes se levantaram contra a tirania do nazismo, que desejava erradicar Deus da sociedade e negar seu humanidade comum a muitos ; especialmente aos judeus;, afirmou o pontífice. ;Ao refletirmos sobre as lições do extermismo ateísta do século 20, não nos esqueçamos nunca de como a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública leva a uma visão truncada do homem e da sociedade e, assim, a uma visão reducionista de uma pessoa e de seu destino;, emendou, no Palácio de Holyroodhouse, em Edimburgo (Escócia). Horas antes, no avião, Bento XVI reconheceu que a Igreja ;não foi suficientemente vigilante; para impedir os abusos contra crianças.


O papa também alertou contra ;formas agressivas; de secularismo na região. ;Hoje, o Reino Unido se esforça para ser uma sociedade moderna e multicultural. Nessa exigente empreitada, espero que possa manter seu respeito pelos valores tradicionais e pelas expressões culturais que formas mais agressivas de secularismo hoje já não dão valor ou até não toleram;, declarou. E exortou a rainha a não permitir que ;o fundamento cristão que sustenta suas liberdades; seja ofuscado. O apelo de Bento XVI ganha importância frente ao aumento no número de britânicos não adeptos da fé. Segundo o Levantamento de Atitudes Sociais do Reino Unido, o índice de ateus subiu de 31% para 43%, entre 1983 e 2008.

Para o reverendo irlandês Vincent Twomey, ex-aluno de doutorado de Joseph Ratzinger (hoje Bento XVI) na Universidade de Regensburg, o pontífice se referia a uma nova espécie de ateus. ;Com um fervor quase evangélico, eles estão tentando excluir todas as formas de religião da esfera pública;, admitiu ao Correio, por e-mail. ;Esses ateus querem abandonar a moralidade tradicional e montar um ataque direto à religião, quase sempre direcionado à Igreja Católica.;

O padre Joseph Fessio, também ex-aluno de Ratzinger, lembra que o secularismo significa o ;desaparecimento de Deus da cultura;. Na opinião dele, ao citar ;formas agressivas; de secularismo, Bento XVI se referia à negação das raízes cristãs da civilização europeia e à rejeição das verdades morais afirmadas pela fé. ;Nelas, estão incluídas a santidade de todo ser humano, da concepção à morte; o casamento como compromisso permanente entre homem e mulher; e o direito de expressar a religião em praça pública;, enumera Fessio.

Missa
Em Glasgow, também na Escócia, o papa reuniu 70 mil pessoas e, em sua homilia, voltou a tocar no assunto. ;A evangelização da cultura é tudo o que há de mais importante em nossos tempos, quando uma ;ditadura do relativismo; ameaça obscurecer a verdade imutável da natureza homem, seu destino e sua bondade final;, alertou. Ele afirmou que algumas pessoas buscam excluir a crença religiosa do discurso pública, privatizá-la ou ;pintá-la; como se fosse uma ameaça à igualdade e a liberdade. ;A religião é, de fato, uma garantia de liberdade autêntica e de respeito;, assegurou. Durante a celebração, a cantora Susan Boyle, finalista do programa Got Talent, interpretou I dreamed a dream, do musical Los Miserables. ;É uma grande honra cantar para o papa e algo que eu sempre sonhei;, comemorou, antes da apresentação.