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Governo cubano eliminará um milhão de empregos públicos

Havana - O governo de Raúl Castro avança na redução da gigantesca burocracia estatal cubana, com a eliminação de mais de um milhão de empregos públicos - 500 mil só nos próximos seis meses - e a abertura de pequenas empresas privadas, como parte da "atualização" do modelo cubano.

"Está prevista (...) a redução de 500 mil trabalhadores no setor estatal e, paralelamente, seu aumento no setor não estatal", anunciou a Central de Trabalhadores de Cuba (CTC), em um comunicado publicado nesta segunda-feira (13/9) pela imprensa.

A redução dos "quadros inchados" será aplicada "imediatamente" e "de forma gradativa e progressiva" até "o primeiro trimestre de 2011", em "todos os setores", acrescentou.

A CTC destacou que, como alternativa, "se amplia e se diversifica o atual horizonte de opções, com novas formas de relação trabalhista não estatal", como o arrendamento, o usufruto, as cooperativas e o trabalho por conta própria.

Segundo documentos que circulam em centros trabalhistas, o governo prevê dar 250 mil permissões para 120 tipos de negócios, como por exemplo, oficinas de conserto de eletrodomésticos, sapateiros, engraxates, cabeleireiros, relojoeiros, mecânicos, jardineiros, tradutores, massagistas, vendedores de ervas.

Embora Raúl Castro tenha prometido que "ninguém ficará abandonado à própria sorte", muitos estão preocupados, enquanto outros comemoram a concessão de permissões de trabalho por conta própria, anunciado em agosto como um caminho para absorver parte dos dispensados do serviço público e dinamizar a economia.

Yvonne Molina, de 27 anos, recebeu há pouco tempo licença para montar uma pequena oficina de costura na garagem de casa, em Centro Havana, e pretende ganhar mais que US$ 20 do salário pago pelo Estado.

"Pago 300 pesos (US$ 12) por mês pela licença e ganhei 250 pesos (US$ 10) em uma semana. Sempre consertei roupa. Antes o fazia ilegalmente. Agora posso fazer vestidos, vendê-los e ganhar a vida sem medo de que me multem. Isto facilita as coisas porque a situação está difícil", contou à AFP.

Os "cuentapropistas" (trabalhadores por conta própria) deverão contribuir para a previdência social, recolher impostos sobre seus ganhos, e aqueles que contratarem funcionários, terão que tributar o uso desta força, o que não agrada a muitos em um país onde a população não está acostumada a pagar taxas.

Desde que substituiu o irmão, Fidel, Raúl Castro vem buscando incentivar a produção e, em abril, anunciou a realocação de mais de um milhão e empregados de uma mão-de-obra de 4,9 milhões, em uma economia controlada 95% pelo Estado.

Afetada pelo paternalismo estatal que prevalesceu por meio século - oficialmente há 1,7% de desocupados -, a ineficiência e o embargo dos Estados Unidos, a economia cubana sofre uma grave crise de liquidez que deteve pagamentos a fornecedores estrangeiros, a queda de 34% no comércio e a ruína de várias atividades.