O presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmou nesta quarta-feira (8/9) que não vai recuar na decisão de aumentar de 60 para 62 anos, a partir de 2018, a idade mínima para a aposentadoria, um dos principais pontos da reforma da previdência que seu governo pretende aprovar, um dia depois de uma grande mobilização no país contra a medida.
"De nenhuma maneira mudaremos este ponto", declarou Sarkozy na reunião semanal do conselho de ministros, segundo o Palácio do Eliseu, sede da presidência.
Sarkozy reiterou que a reforma do sistema de aposentadorias defendida por seu governo, apresentada na terça-feira no Parlamento, é "uma das mais importantes, já que no momento em que uma aposentadoria em cada 10 é financiada pela dívida, devemos garantir aos franceses que suas aposentadorias e as de seus filhos serão pagas".
A reforma, criticada na terça-feira nas ruas das principais cidades do país por mais de um milhão de pessoas, segundo a polícia, e quase três milhões, de acordo com os sindicatos, prevê elevar a idade mínima a partir de 2018 e aumentar de 65 a 67 anos a idade para obter uma aposentadoria completa, os dois pontos mais polêmicos.
Sarkozy destacou que, por tratar-se de uma "reforma essencial", é "normal que apareçam inquietações e mobilizações importantes, como aconteceu ontem".
"Não deixarei que ninguém desnaturalize a reforma, pois seria colocar em perigo o retorno ao equilíbrio do sistema de aposentadorias", advertiu em seguida.
O governo defende que a reforma permitirá salvar um sistema ameaçado pelo aumento da expectativa de vida e pelas consequências da crise econômica de 2008.
[SAIBAMAIS]Segundo um organismo independente, a crise triplicou o déficit do sistema da previdência em 2010, a 32 bilhões de euros (39 bilhões de dólares). Se nada for feito, o déficit chegará a 70 bilhões de euros em 2030.
Com mais de 15 milhões de aposentados, a França é um dos países europeus com idade mínima mais baixa para ter direito à aposentadoria, mas com a exigência de 40 anos de contribuição.
A reforma que o governo pretende aprovar no Parlamento em outubro prevê o aumento dos anos de contribuição para 41 a partir de 2012 e para 41 e três meses a partir de 2013.
Mas o governo também pretende apresentar emendas ao projeto sobre pessoas que têm empregos considerados difíceis e àquelas que começaram a trabalhar antes dos 18 anos.
Sarkozy pediu ao gabinete que melhore este último dispositivo, com a inclusão dos agricultores e das pessoas com incapacidade de 10%, que poderiam se aposentar a partir dos 60 anos, ou até antes.
O responsável por apresentar as emendas ao Parlamento será o ministro do Trabalho, Eric Woerth, debilitado pelos vínculos com um escândalo político-fiscal que envolve a terceira maior fortuna da França, a herdeira do império L;Oreal.
A líder socialista Martine Aubry pediu um recomeço do zero da reforma, enquanto o jornal de esquerda Liberation chamou o projeto de "anti Robin Wood", "pois fará trabalhar os mais pobres para preservar os ricos".
Depois dos grandes protestos de terça-feira, líderes sindicais não descartam a possibilidade da convocação de uma greve geral. "Os sindicatos ganharam o set, mas não venceram a partida contra o governo", destaca o jornal Le Figaro em sua edição on-line, já que a edição impressa não chegou às bancas em consequência da greve de terça-feira.