MÉXICO - A cobertura sobre a violência do tráfico de drogas no México, um dos países mais perigosos do mundo para os jornalistas, é determinada cada vez mais pelas máfias que impõem a lei do "silêncio ou morte", denuncia um relatório publicado esta quarta-feira.
Diante de assassinatos, sequestros, ameaças e tentativas de suborno aos jornalistas, muitos têm tomado a decisão de, simplesmente, não trabalhar em temas vinculados ao narcotráfico, adverte um relatório do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), sediado em Nova York.
O informe "Silêncio ou morte na imprensa mexicana" aborda os crimes contra 22 jornalistas e três funcionários de meios de comunicação, bem como o desaparecimento de sete, desde que o presidente mexicano, Felipe Calderón, ordenou aos militares que se envolvessem no combate ao tráfico de drogas, em dezembro de 2006.
Com a decisão, explodiu uma onda de violência que já matou 28 mil pessoas.
"Enquanto o México continuar permitindo aos criminosos controlarem o fluxo informativo, mais se deteriorará sua condição de parceiro global confiável", alerta Carlos Lauria, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ.
Segundo ele, o leque de mecanismos para silenciar a imprensa inclui ameaças, subornos que levam à autocensura e, em alguns casos, os agressores contam com a cumplicidade de autoridades.
O informe lembra que mais de 90% dos crimes contra a imprensa continuam impunes e reivindica medidas urgentes para "criar um ambiente em que os jornalistas possam fazer seu trabalho com certo grau de segurança".
"Não é possível vencer a guerra contra as drogas se o país cede o controle da informação pública aos narcotraficantes", destaca em outro aparte, Joel Simon, diretor-executivo do CPJ.
No fim de agosto, uma missão dos relatores para a Liberdade de Expressão das Nações Unidas e da Organização de Estados Americanos (OEA), recomendou ao governo mexicano criar uma comissão de alto nível para proteger os jornalistas.
Como exemplo do silêncio que tem sido imposto nas regiões mexicanas mais afetadas pela violência, o CPJ menciona Reynosa, cidade vizinha à americana McAllen e situada no estado de Tamaulipas, que tem sido cenário de uma sangrenta disputa entre o cartel do Golfo e o grupo Los Zetas.
Nas últimas semanas, a violência resultou na chacina de 72 migrantes, na explosão de dois carros bomba, e em tiroteios em estradas e ruas.
"Mas isto não se lê na imprensa local: o cartel também controla os meios de comunicação", denuncia o texto.
O informe do CPJ vai além e destaca que na região "o cartel do Golfo controla o governo local, das forças de segurança às permissões concedidas a vendedores ambulantes".
A falta de notícias leva os cidadãos de Tamaulipas a usarem as redes sociais na internet para trocar informações sobre a violência.
Os jornalistas que não acatam a lei do silêncio sofrem graves represálias. Três jornalistas de Reynosa desapareceram em março e teme-se que tenham sido mortos.
Outro exemplo do risco que correm os repórteres é o assassinato, em novembro passado, do cronista judicial de Durango (norte), Bladimir Antuna García.
"Quando foi ameaçado de morte, autoridades estatais o ignoraram. Depois de ser assassinado, também", pois o caso continua sem ser investigado, destaca o CPJ.
Junto do corpo do jornalista, foi encontrada uma nota com a mensagem: "isto aconteceu comigo por dar informação aos militares e escrever o que não se deve".