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Governo espanhol considera trégua do ETA insuficiente

O cessar-fogo anunciado no domingo pelo ETA é "insuficiente" e a organização separatista armada basca "tem que abandonar a violência", exigiu nesta segunda-feira o ministro espanhol do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, em uma entrevista a TVE.

"O anúncio é insuficiente. ETA tem que deixar a violência de todo, para sempre", afirmou o ministro, um dia depois do grupo ter anunciado em um vídeo ter adotado "há alguns meses a decisão de não executar ações armadas ofensivas" na luta pela independência basca.

O governo socialista espanhol declarou ser "cético" e os partidos políticos qualificaram de "insuficiente" o anúncio, que não detalha o tempo de duração da trégua nem se o ETA abandona definitivamente as armas.

"O essencial é que temos que dizer ao ETA ;acabou, ou deixa ou te faremos deixar", disse o ministro.

Rubalcaba destacou ainda que o ministério do Interior mantém intacta a política antiterrorista.

"Não vamos mudar nem um pouco, nem uma vírgula, nossa política antiterrorista".

"Nos interessa que o ETA deixe a violência: enquanto não romper com a violência, não vai entrar nas instituições", completou.

O movimento separatista armado basco deseja criar um partido político para disputar as eleições municipais de 2011 no País Basco e em Navarra (norte), mas o ministro advertiu que "com o ETA ao lado não vão entrar nas instituições".

A Comissão Europeia recebeu com prudência a notícia do cessar-fogo. "O comunicado do ETA, divulgado no domingo pela BBC, nos permite ter esperanças sobre uma saída para o conflito basco, mas de uma forma prudente", declarou à imprensa uma porta-voz da Comissão Europeia.

"Acompanharemos de perto os acontecimentos", afirmou a fonte, que se negou a fazer qualquer outro comentário.

ETA, considerado um grupo terrorista pela União Europeia (UE), é responsável pela morte de 829 pessoas em mais de 50 anos de violência pela independência da Euskal Herria, uma "grande nação basca" formada pelo país basco espanhol, a região de Navarra e o país basco francês.

A imprensa espanhola, por sua vez, mostrou seu total ceticismo com o anúncio, e alguns jornais chegaram a classificá-la de "farsa".

O jornal de centro-esquerda El País coloca como manchete em sua primeira página a palavra "insuficiente" e afirma que o anúncio "acontece num momento de maior fragilidade do grupo, que vê como a política está detendo seus cabeças e destroçando sua estrutura".

Também acontece num momento em que "a esquerda abertzale (separatista radical) pressiona para que deixe as armas", explica.

El Mundo (direita) chama o anúncio de domingo "pseudotrégua tática", já que "a ambiguidade do ETA permite suspeitar que tenta fazer da necessidade uma virtude depois de ter sofrido duríssimos golpes policiais".

"Além disso, provavelmente precisa ganhar tempo tanto pela pressão política a que está submetida como pelo custo político que supõe continuar praticando a violência", afirma seu editorial.

Por último, pretende "satisfazer aos especialistas internacionais (...) que pediram ao ETA um cessar-fogo supervisionado".

"O cessar-fogo não é nem indefinido, nem verificável, como pediu o Batasuna (...) a ambiguidade do ETA torna impensável nesse momento a legalização de um partido que permita a esquerda abertzale apresentar-se nas eleições municipais do ano que vem", explica.

E recorda que o ETA aproveitou as duas tréguas para se reorganizar e se reorganizar.

O jornal conservador ABC afirma que a trégua é uma "farsa" do ETA visando às eleições municipais. "Só vale a rendição do ETA", conclui o editorial.

Por outro lado, o jornal francês "Le Monde" vê o anúncio como uma "luz de esperança", apesar de considerar que "a via política está distante de ser um fato".

Segundo a publicação, "algo está mudando no mundo separatista radical basco".