Jornal Correio Braziliense

Mundo

Moçambique sofre falta de gasolina e dinheiro após três dias de protestos

MAPUTO - A capital de Moçambique, Maputo, começa a sofrer com a falta de gasolina e de dinheiro em espécie neste sábado (4/9), quando tenta retomar as atividades normais após os confrontos de manifestantes com a polícia que deixaram 10 mortos e mai de 400 feridos em três dias de manifestações contra o aumento do custo de vida.

O centro da cidade e as lojas estavam cheios novamente, mas os frequentadores eram obrigados a desviar do que restou das barricadas nas ruas e de alguns veículos queimados, em meio a oficiais de polícia.

Os motoristas tinham dificuldade de encontrar gasolina nos postos, que não conseguiram receber o combustível durante os protestos.

As cédulas de dinheiro também começaram a acabar nos caixas automáticos, que registram longas filas em toda a cidade.

A madrugada de sábado foi tranquila em Maputo e outras áreas de Moçambique, após três dias de manifestações que praticamente paralisaram a capital.

Na quarta-feira, milhares de pessoas saíram às ruas nos bairros pobres de Maputo para protestar contra o aumento dos preços do combustível, trigo, pão, água e energia elétrica.

Segundo testemunhas, a polícia usou balas de borracha inicialmente para dispersar a multudão, mas depois recorreu a balas reais, o que provocou a morte de sete pessoas e deixou 230 feridos.

Os protestos continuaram na quinta-feira e mais três pessoas morreram em consequência direta dos distúrbios, segundo o ministro da Saúde moçambicano, Ivo Garrido.

Na sexta-feira, três policiais ficaram feridos em novos protestos. Os manifestantes jogaram pedras nos oficiais, segundo a polícia, que enfrentou os ativistas em dois bairros pobres do norte da capital, Benfica e Hulene.

Os manifestantes construíram barricadas com pneus queimados.

"Quando tentamos detê-los, lançaram pedras e outros objetos", afirmou o ministro.

De acordo com Garrido, a polícia utilizou balas reais quando as de borracha acabaram, mas nas palavras dele "apenas para dispersar a multidão".

Apesar do crescimento econômico registrado desde 1992, 65% dos 20 milhões de moçambicanos vivem abaixo da linha de pobreza.

O partido no poder desde a saída dos colonos portugueses em 1975, a Frente para a Libertação de Moçambique (Frelimo), ganhou as eleições de outubro do ano passado, que ratificaram o presidente Armando Guebuza com uma maioria de 75%, mas perdeu espaço em Maputo, ao mesmo tempo que avançou nas zonas rurais.

"O resultado foi um sinal de descontentamento na capital, onde os pobres não dispões dos mecanismos de sobrevivência dos camponeses", opina Joe Hanlon, da britânica Open University.