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EUA e militantes pressionam Abbas

Casa Branca defende diálogo com líder palestino. Facções islâmicas formam coalizão


Um dia depois de apertar a mão do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em Washington, o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, começa a sentir que a pressão sofrida de ambos os lados só tende a aumentar com o avanço das conversas. De acordo com um alto funcionário palestino, a Casa Branca tem insistido para que Abbas prossiga com o diálogo, mesmo diante da possível retomada das obras nos assentamentos judaicos. Do lado palestino, um grupo formado por 13 milícias ; entre elas as Brigadas de Ezzedin Al-Qassam, braço armado do Hamas ;prometeu aumentar os ataques contra Israel para minar com o processo de paz retomado nesta semana.

Para essas facções, o reinício do diálogo é ;absurdo;, ;infrutífero;, e dá a cobertura necessária para Israel cometer ;mais ações agressivas; contra o povo palestino. ;Não deixaremos que as negociações funcionem e responderemos (a elas), porque são uma punhalada nas costas do nosso povo para legalizar as colônias e ignorar os direitos palestinos;, afirma o texto dos militantes, lido por Abu Ubaida, porta-voz do Ezzedin Al-Qassam, em uma coletiva de imprensa em Gaza. O grupo, que inclui ainda a Jihad Islâmica, a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) e os Comitês Populares de Resistência, afirmou que iniciará uma fase ;avançada; de resistência armada contra Israel, que não descarta nenhuma possibilidade de ação.

Liderada pelo Hamas, a resistência contou com o apoio do governo do Irã(1). Diante de uma multidão que saiu às ruas em Teerã por conta do dia anual de solidariedade à causa palestina, o presidente Mahmud Ahmadinejad defendeu que o diálogo iniciado em Washington está ;condenado e fadado ao fracasso;, já que Abbas não representa o desejo do povo palestino. ;Quem eles (AP) estão representando? Quem deu a eles o direito de venderem um pedaço da terra palestina? O povo da Palestina e as pessoas da região não permitirão que eles vendam nem sequer uma polegada de solo palestino ao inimigo;, disse Ahmadinejad, conclamando os palestinos a ;removerem o regime sionista da cena mundial;. ;Resistir é a única forma de resgatar os palestinos;, disse.

Condição
Do outro lado, a pressão sobre Abbas veio, primeiro, de países como Jordânia e Egito, para retomar as negociações com Israel. Dos Estados Unidos, ela foi suficiente para relevar o peso de condições como o congelamento dos assentamentos judaicos em territórios ocupados por palestinos. Contudo, segundo o jornal israelense Haaretz, que cita uma fonte do alto escalão palestino, Abbas dificilmente permanecerá à mesa de negociações se as construções forem reiniciadas a partir do fim da moratória, no dia 26.

Ontem, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que participará da próxima reunião entre os dois líderes em 14 e 15 de setembro, em Sharm el-Sheikh, no Egito, disse considerar que Jerusalém pode se ;tornar um símbolo de paz e cooperação;. ;Ambas as partes sabem que devem dialogar sobre este tema, para que Jerusalém deixe de ser um centro de tensões;, disse Hillary, acrescentando que as negociações devem estar acompanhadas de ;mudanças no terreno, de forma a criar confiança;. Netanyahu avisou que poderá convocar um referendo para decidir sobre pontos polêmicos ; entre eles, Jerusalém ; de um possível acordo de paz.

Em defesa do TNP
O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, pediu a Israel que considere aderir ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). De acordo com um documento da agência, o ;convite; foi feito por Amano durante visita ao país em agosto ; e em meio a uma intensa campanha árabe para que o Estado judeu coloque seu programa nuclear sob a fiscalização da AIEA. Amano pediu a Israel que ;submeta todas as instalações nucleares às salvaguardas da AIEA;. Ele transmitiu a ;preocupação; da agência com as capacidades nucleares de Israel. O documento divulgado pela AIEA inclui uma carta na qual o chanceler israelense, Avigdor Lieberman, aponta o Irã e a Síria como ;obstáculos reais de proliferação;.