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Mineiros chilenos vão completar um mês sob a terra

Copiapo - Os 33 mineiros chilenos completam neste domingo (5/9) um mês no fundo de uma mina de cobre no norte do Chile, a 700m de profundidade - vivendo uma longa noite no limite das condições humanas de sobrevivência, em meio a uma operação de resgate sem precedentes que atrai a atenção mundial.

Os mineiros ficaram sob a terra depois de um desabamento que obstruiu o acesso à mina San José na tarde de 5 de agosto e, ao fim de um mês, o grupo luta por sobreviver nas profundidades da jazida, convivendo com a umidade e o calor extremo, na penumbra que se estenderá por mais três ou quatro meses, até o resgate.

Em um mês a história passou por momentos extremos: da desolação e desesperança dos primeiros 17 dias nos quais não se sabia nada deles, a um transbordamento de alegria nacional no domingo, 22 de agosto, quando foi confirmado que todos estavam vivos.

Uma pequena mensagem escrita com tinta vermelha e colocada no martelo de uma máquina perfuratriz fez surgir a esperança: "Estamos bem no refúgio, os 33", escreveu um mineiro das profundidades.

"Isto veio hoje das entranhas da terra (...) é a mensagem de nossos mineiros que nos dizem estar vivos, juntos", disse o presidente Sebastián Piñera, ao ler em público a mensagem, que trouxe muita alegria aos chilenos, como se fosse uma vitória esportiva, e que foi celebrada nas ruas.

A partir desse momento, a atenção da mídia passou a se centralizar na pequena jazida de cobre e ouro, em pleno deserto de Atacama, desconhecida para a maioria dos chilenos até a data fatídica do desabamento.

Cada um dos 33 mineiros foi convertido em personagem. Há dentro da mina um ex-jogador, um mineiro boliviano, o líder do grupo, e até um improvisado apresentador televisivo, que atuou como animador nos vídeos gravados nas profundidades que deram a volta ao mundo.

Conectados à superfície por pequenos dutos por onde lhes são enviados alimentos, remédios, água e até entretenimento, dialogaram diretamente com o presidente Piñera e foram cumprimentados pelo Papa Bento XVI, da Itália.

Eles receberam camisetas de futebol assinadas por craques da seleção nacional; um milionário doou um cheque de US$ 10 mil e centenas de pessoas lhes fizeram chegar presentes.

As famílias, que permanecem em vigília num acampamento montado ao ar livre, perto da jazida - que em um mês se transformou em verdadeira cidadela com vida própria -, são imensamente reconhecidas e algumas já participaram de programas da TV local.

O grupo bateu todos os recordes de sobrevivência no interior da mina.

Cerca de cem engenheiros liderados pela estatal chilena Codelco trabalham na operação de resgate.

Paralelamente, são analisados outros planos com outras máquinas, que serviriam de apoio e até poderiam acelerar o resgate.

Mas se os trabalhos de engenharia são complexos, manter em ótimas condições os 33 mineiros durante o tempo de resgate representa um desafio sem precedentes.

Especialistas da NASA viajaram à mina San José para assessorar a equipe de médicos e psicólogos que trabalham na manutenção das condições de saúde dos mineiros. Recomendaram recriar as condições de dia e noite no interior da jazida e traçar objetivos para eles.

Também aconselharam falar com eles com franqueza sobre o longo período de resgate, mas sem lhes dar datas precisas, tal como é feito com os astronautas em longas missões espaciais, embora trata-se aqui de sobreviver sob a terra.