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Calderón admite 'guerra cada vez mais sangrenta' no México

Com 1,5 milhão de habitantes, Tijuana ; no noroeste do México ; é uma das portas de entrada para os Estados Unidos. Fica a apenas 27km de San Diego, na Califórnia. Destino final de uma das principais rotas de imigrantes, a cidade também desperta a ganância do narcotráfico pelo controle das drogas, no momento em que o Cartel de Tijuana sofre um processo de enfraquecimento. Quase duas semanas após o massacre(1) de pelo menos 72 latino-americanos no estado de Tamaulipas, a polícia mexicana agora se depara com o sequestro de 17 imigrantes. A denúncia de sequestro chegou ao conhecimento da polícia pelo ex-refém Leandro Martínez, 38 anos, libertado por seus captores. Ele contou que foi espancado e teve pés e mãos amarrados durante os 10 dias de cativeiro. Também foi obrigado a informar os telefones de parentes, dos quais foram exigidos US$ 4,5 mil de resgate. Leandro e outro imigrante foram abandonados anteontem perto de uma montanha, a leste de Tijuana.

O brasileiro Wagner dos Santos, 31 anos, mora em Tijuana desde 2002 e reclama do clima de insegurança. ;A briga pela venda de drogas aqui é intensa. Como estamos perto da fronteira, o tráfico de pessoas e a prostituição são comuns;, admite o rapaz, que deixou o Rio de Janeiro para tentar se formar como professor. ;Todos nós temos medo de sequestro ou que nos aconteça algo de ruim;, admite ao Correio, pela internet. De acordo com o mexicano Hector Dominguez-Ruvalcaba, professor da Universidade de Texas em Austin (EUA), a região noroeste do México é de ;periculosidade média;. ;Em Tijuana e em Ciudad Juárez, grupos de sequestradores têm operado em cumplicidade com a polícia local. Há vários casos de investigadores que, na verdade, estavam envolvidos nos sequestros;, afirma.

;A fronteira de Tijuana com San Diego é tradicionalmente palco de conflitos sociais e de crimes;, comenta Javier Oliva Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam). ;Isso inclui a passagem de imigrantes ilegais, além do contrabando de armas e drogas;, acrescenta.

O sequestro em Tijuana é apenas mais um componente na violenta dinâmica do narcotráfico no país. ;O México vive uma guerra cada vez mais sangrenta entre os grupos do crime organizado em sua disputa por territórios, mercados e rotas;, declarou ontem o presidente Felipe Calderón. Ele atribui as 28 mil mortes desde 2006 ao desespero dos cartéis, ante a perseguição das forças do governo. ;A captura ou a morte de importantes líderes criminosos tem gerado nessas organizações expressões de maior desespero;, garantiu o mandatário, ao lembrar que 125 capos e testas-de-ferro morreram ou foram capturados em quatro anos.

O Exército atacou ontem um campo de treinamento de pistoleiros do narcotráfico em General Terviño, perto de Monterrey. A imprensa local informou que os combates deixaram 25 mortos.

Estatística
O instituto Pew Hispanic Center revela redução de 8% no número de imigrantes ilegais morando nos EUA. Em março de 2009, havia 11,1 milhões de pessoas nessas condições no país, contra 12 milhões em 2007. É a primeira reversão no crescimento da população de ilegais em 20 anos.

1 - Brasil oferece ajuda
O massacre de Tamaulipas ganhou um ingrediente de mistério. O equatoriano Luis Freddy Lala Pomavilla, um dos dois sobreviventes, contou que viajava com 76 pessoas quando o grupo foi interceptado pelos assassinos. O destino de dois imigrantes é desconhecido. Ontem, o Itamaraty confirmou ao Correio que o governo brasileiro colocou à disposição do México peritos e especialistas da Polícia Federal para ajudarem no reconhecimento de alguns dos 72 corpos. Ao menos 56 cadáveres foram transportados para a Cidade do México. Segundo a Agência Brasil, representantes do presidente Felipe Calderón se reuniriam ontem à tarde com o embaixador do Brasil no México, Sérgio Florêncio, com o cônsul-geral, Márcio Araújo Lage, e com diplomatas de Honduras, El Salvador e Guatemala para detalhar a identificação dos mortos.