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De olho em um mercado de US$ 40 bi, cartéis de drogas delimitam áreas de domínio no México

Sinaloa, o maior cartel, liderado por Joaquin Guzman Loera, fugitivo de uma prisão de segurança máxima. Zetas, formado por ex-membros das forças especializadas do Exército na luta contra o narcotráfico e principal suspeito da execução de 72 imigrantes ilegais, no dia 21, no estado de Tamaulipas. Golfo, dono quase absoluto das rotas da droga desde a Guatemala até o Texas. Família Michoacana, que incorporou em seus métodos a mutilação, o enforcamento, a extorsão e o sequestro. Ciudad Juárez, engajado em uma luta com Sinaloa pelo comércio da cocaína. Os donos do narcotráfico no México não abrem mão da violência extrema, em troca da participação em um mercado que movimenta US$ 40 bilhões por ano.

Os cartéis ganharam influência na década de 1990, quando o governo da Colômbia praticamente pulverizou os cartéis de Medellín e de Cali, até então responsáveis pela introdução da droga nos Estados Unidos. ;Além de terem reforçado seu poder, estabeleceram alianças com grupos criminosos europeus, para quem vendiam cocaína, e com facções asiáticas, para viabilizar a produção de metanfetaminas;, explicou ao Correio Raúl Benítez Manaut, especialista em Segurança Nacional pela Universidad Nacional do México. Um negócio que se beneficiou da dinâmica interna para repercutir no exterior.

Com 3.138km de fronteira com os Estados Unidos, o México tornou-se corredor de imigrantes ilegais, ávidos para alcançar o chamado American Dream. Para cruzar a divisa ; e atravessar o território dos narcotraficantes ;, contratam os chamados coiotes. ;Os coiotes eram mexicanos contatados nas aduanas e nos postos migratórios para facilitar a passagem dos imigrantes, por uma quantia de dinheiro. No norte, na fronteira com os EUA, ajudam na travessia do Rio Grande. Mais recentemente, o cartel dos Zetas começou a pressionar os coiotes para que trabalhem para a facção. Isso tem provocado graves problemas de segurança;, alerta Raúl. Segundo o especialista, os Zetas e o Cartel do Golfo passaram a extorquir imigrantes guatemaltecos, salvadorenhos, hondurenhos, equatorianos, colombianos e brasileiros. ;Os criminosos os sequestram para pedir resgate às famílias e usá-los como ;mulas;, meios de transporte da cocaína através da fronteira;, observa.

Vicente Sanchez Munguia, professor do Departamento de Estudos de Administração Pública (em Tijuana), explica que os cartéis mexicanos ganharam força no controle das rotas até o norte. Praticamente tornaram-se transnacionais. ;Já se tem notícias de sua presença em países da América Central, da América do Sul, da África e da Europa;, destaca. De acordo com ele, as organizações criminosas do México operam a partir de uma divisão do território ; enquanto os Zetas e o Golfo travam uma batalha pela costa leste do México, o Sinaloa domina o centro-oeste. ;Essas facções se especializam nos tipos de drogas que comercializam e mantêm uma estrutura verticalizada de poder: a queda de um chefe (capo) encontra substitutos imediatos;, comenta Munguia.

Simbiose
Para assegurar a manutenção de suas áreas de domínio, os cartéis do narcotráfico se beneficiam do apadrinhamento de governos regionais, que obtêm benefícios econômicos. ;Eles não compram as autoridades, mas a proteção das áreas de segurança do governo;, explica Munguia. ;Nos últimos anos, os governos têm sido submetidos à extorsão pelos cartéis, que controlam a polícia e ameaçam prefeitos e funcionários das províncias;, acrescenta. Raúl Benítez reconhece que os criminosos se aproveitam da corrupção, um problema endêmico na América Latina. ;Os cartéis têm grandes quantidades de dinheiro para subornar políticos e policiais. Essas relações são individuais, mas suficientes para debilitar o Estado.;

A corrupção cria uma relação promíscua, que alimenta o negócio das drogas e torna os imigrantes vulneráveis. Os cartéis já controlam as rotas dos ilegais e os acessos fronteiriços. ;Os criminosos têm estabelecido regras para a operação dos coiotes. E atuam para sequestrar os imigrantes cujas famílias moram nos EUA;, diz. Mandam nas autoridades, na polícia e nos imigrantes. Transformaram o México numa terra que responde à lei do narcotráfico.