Buenos Aires - O governo argentino apresentou na noite desta sexta-feira ao Congresso um projeto que declara de "interesse público" a produção e distribuição de papel para jornais, em mais um capítulo do confronto entre a presidente Cristina Kirchner e os grupos La Nación e Clarín.
[SAIBAMAIS]A iniciativa, apresentada no último minuto da sessão parlamentar, declara de "interesse público" a produção, comercialização e distribuição de papel para jornais, e será debatida primeiro pela Câmara dos Deputados, onde Kirchner não conta com a maioria.
"A produção de papel para os jornais constitui uma atividade absolutamente relevante por sua contribuição de caráter direto à existência das publicações, das quais depende boa parte da transmissão cultural e jornalística nas sociedades modernas", destaca o projeto.
Kirchner pretende tirar dos grupos La Nación e Clarín o controle da "Papel Prensa", a única produtora de papel para jornal do país.
A presidente argentina, baseada em um relatório elaborado pelo governo, acusa Clarín e La Nación de conluio com a ditadura militar (1976-83) para assumir o controle da "Papel Prensa".
O projeto tem o apoio dos legisladores que consideram que a "Papel Prensa" prejudica centenas de diários de menor porte com preços superiores aos pagos por Clarín e La Nación.
Os dois maiores grupos de imprensa do país negam que o abastecimento de papel seja monopólio na Argentina, assinalando que "é um dos poucos produtos que se importa sem nenhum tipo de restrições e tarifas".
Na terça-feira, Kirchner acusou os grupos Clarín e La Nación de apropriação fraudulenta da "Papel Prensa" e ameaçou levar o caso à Justiça.
"Vamos apresentar isto aos tribunais correspondentes (...) para solucionar esta situação que já leva 33 anos de práticas obscuras e desleais...", disse a presidente, afirmando que La Nación e Clarín negociaram com a Junta Militar para assumir o controle da "Papel Prensa".
Segundo o governo, a aquisição fraudulenta se fez por "uma variedade de crimes de lesa humanidade, cometidos contra o grupo Graiver, liderado pelo empresário David Graiver, morto em um estranho acidente aéreo em 1976".
Na ocasião, a ditadura militar acusava o grupo Graiver, controlador da "Papel Prensa", de ter vínculos com o movimento armado peronista Montoneros.
Na semana passada, em outro golpe contra a imprensa, o governo tirou a licença de operação da firma Fibertel, pertencente ao grupo Clarín e fornecedora de serviços de internet via cabo, com participação de 25% em um mercado de 4,2 milhões de usuários.