Jornal Correio Braziliense

Mundo

Duas mil pessoas desafiam autoridades em show proibido em Moscou

Cerca de duas mil pessoas lotaram uma praça em Moscou, este domingo, sob forte policiamento, em um show de rock proibido, organizado em protesto contra os planos de construção de uma auto-estrada através de uma floresta nos arredores da capital russa.

O número de participantes foi muito superior ao que costumam atrair as manifestações da oposição em Moscou, mas o concerto não pôde ser realizado, porque a polícia, que montou um forte esquema de segurança no local, não permitiu a instalação do equipamento de amplificação, informou um correspondente da AFP no local.

No entanto, o veterano roqueiro Yuri Shevchuk, que se opôs ao regime soviético e agora ao governo do primeiro-ministro, Vladimir Putin, agradou os fãs ao subir em uma escada portátil e cantar suas músicas conhecidas sem o auxílio do microfone.

Dezenas de carros da polícia e membros da temida tropa de choque OMON, usando capacetes e coletes à prova de balas, circundavam a praça.

O objetivo do show era apoiar os esforços de ambientalistas contra a construção da auto-estrada em plena floresta Khimki, nos arredores de Moscou, e que se tornou um símbolo da luta dos russos por seus direitos.

Manifestações na Praça Pushkin contra a construção da via foram sancionadas pelas autoridades moscovitas, que proibiram explicitamente a realização do show.

"Viemos fazer belos discursos e cantar belas canções. Mas temos um problema", disse à AFP Artemi Troitski, um dos organizadores do evento.

"O equipamento de som está no carro logo ali e as forças de segurança não permitem que seja trazido para a praça", acrescentou.

Segundo autoridades, alguns ativistas oposicionistas foram detidos antes do evento, inclusive o proeminente manifestante Lev Ponomaryov.

Outos 20 ativistas, inclusive Mikhail Shneider, do movimento de oposição Solidarnost, e o ex-ministro do governo Boris Nemtsov, também foram detidos em um protesto realizado mais cedo, equanto tentavam levar uma bandeira russa para o centro de Moscou para celebrar a festa oficial do Dia da Bandeira.

"O problema é que - por uma ou outra razão - as autoridades temem pessoas com guitarras", disse à AFP Shevchuk, enquanto chegava ao local da concentração trazendo sua guitarra.

A floresta Khimki, a noroeste de Moscou, é um "símbolo da luta cívica contra a arbitrariedade do Estado", afirmou.

Em maio, Shevchuk desafiou o premier Putin abertamente, dizendo-lhe pessoalmente que a Rússia estava sendo governada por "duques e príncipes com sirenes em seus carros" e que as manifestações eram dispersadas por serviços de segurança "repressores".

Um dos vários roqueiros dissidentes famosos em São Petersburgo (ex-Leningrado), Shevchuk cantou sua famosa balada, ;Rodina; (terra-mãe), acompanhado, em coro, pelos fãs.

"Esta é nossa floresta! Rússia sem Putin", "Ouçam-nos", gritava a multidão, que exibia cartazes, com dizeres como "Putin permitiu que a floresta seja posta abaixo".

Autoridades costumam usar a força para dispersar protestos em Moscou, mesmo com a fraca e fragmentada oposição russa, cujos protestos não costumam atrair muitos simpatizantes.

A polêmica sobre a construção da estrada começou em um raro protesto violento, em julho, quando manifestantes atiraram bombas de fumaça e quebraram vidraças nas instalações da administração local de Khimki.

As autoridades moscovitas também parecem ter sido responsabilizadas por descontentes sobre a forma como está lidando com os mortais incêndios florestais que devastaram a região este verão e com a decisão do prefeito da cidade, Yuri Luzhkov, de permanecer em férias enquanto a crise se agravava.