Jornal Correio Braziliense

Mundo

Contingente americano está fora de combate

EUA antecipam a saída de sua última brigada com missão ativa na segurança do país. No fim do mês, iraquianos assumirão sozinhos a tarefa


Duas semanas antes da data fixada, a última brigada norte-americana em missão de combate deixou ontem o Iraque, onde as tropas locais assumirão plenamente o controle pela segurança no próximo dia 31, segundo o plano de retirada definido pelo presidente Barack Obama. Os 50 mil militares dos EUA que permanecerão até o fim de 2011 terão apenas função ;diplomática;. Para compensar a saída antecipada dos 6 mil combatentes, o Departamento de Estado anunciou que dobrará o número de seguranças privados no país: eles passarão a ser 7 mil, encarregados de proteger os diplomatas e funcionários civis em serviço no país.

Fontes da diplomacia americana disseram ao New York Times que os contratados terão como principal função a prevenção de ataques mediante o uso de radares, a detecção de artefatos explosivos e a direção de aviões não tripulados. O Pentágono anunciou ainda a compra de 60 veículos resistentes a minas, três aviões e 12 helicópteros. Fontes diplomáticas informaram ao jornal The New York Times que Obama planeja um grande esforço de ação civil no Iraque, com participação da iniciativa privada.

O analista político iraquiano Louay Bahry avalia que os iraquianos estão divididos sobre a retirada. ;Alguns acreditam que as tropas americanas estão deixando o país muito rápido, e que o Iraque não está pronto para assumir a responsabilidade por si mesmo. Outros consideram que os americanos devem deixar o país para fortalecer o governo iraquiano;, diz Bahry ao Correio, por telefone.

O ex-professor de ciência política da Universidade de Bagdá, porém, não acredita que depois de os EUA terem investido bilhões de dólares no país, nos últimos sete anos, ;a figura do soldado americano desapareça; de uma hora para outra. Bahry considera que o prazo máximo de 2011 ainda pode ser revisto por Obama. O general Babaker Zebari, chefe do Estado-Maior iraquiano, também opinou que a retirada é prematura e que o exército local não estará pronto antes de 2020.

Já o porta-voz do governo iraquiano, Ali Al-Dabbagh, garantiu que as tropas ;estão preparadas para enfrentar qualquer ameaça;. Sobre a retirada antecipada da última brigada americana de combate, Dabbagh explicou que ;tudo foi acordado; entre os dois governos. ;Tivemos de tomar a decisão entre manter a presença militar estrangeira a longo prazo em nosso território ou fazer o trabalho nós mesmos;, completou o porta-voz.

Alguns analistas indicam que o aumento de funcionários contratados para a segurança poderia ser um problema para o governo iraquiano, uma vez que já foram registradas mortes de civis vítimas desses contratados do Departamento de Estado. ;Esses seguranças terão de submeter-se à lei iraquiana;, afirma o cientista politico Bahry. Eles não gozarão de imunidade e poderão ser processados pelas autoridades locais.

Bahry também chama atenção para os problemas internos do país como chave para o sucesso da retirada. ;A população da antiga Mesopotâmia, que vive literalmente entre dois rios, sofre com a falta de água, com o calor de 50 graus e falta de coleta de lixo. Além da frustração de ver que os políticos iraquianos não conseguem formar um governo, mesmo depois das eleições de março e estabelecer a confiança no futuro;, completa o professor.

Ryan Crocker, embaixador americano no Iraque em 2007, também destaca a falta de um acordo entre os militares. ;Precisamos de um engajamento intenso e sustentável. Se os comandantes começarem a se perguntar ;por que estamos lutando e morrendo para manter este país unido, enquanto os civis estragam seu futuro?;, isso pode ser perigoso;, disse o diplomata ao New York Times. Quase sete anos e meio depois da invasão liderada por Washington, e após a morte de mais de 4.400 militares americanos e dezenas de milhares de iraquianos, uma pesquisa realizada para o Brookings Institute revelou que o otimismo no Oriente Médio em relação à política americana para a região caiu de 51%, no início do governo Obama, para apenas 16%. Foram entrevistadas 3.976 pessoas em seis países: Egito, Arábia Saudita, Marrocos, Jordânia, Líbano e Emirados Árabes.


FÉRIAS NA PRAIA
Barack Obama embarcou ontem no helicóptero oficial, o Marine One, e decolou da Casa Branca com destino a Martha;s Vineyard, ilha de Massachusetts frequentada por ricos e poderosos, como o clã Kennedy e o casal Clinton. O presidente vai passar 10 dias de férias com a mulher, Michelle, e as filhas, Sasha, 9 anos, e Malia, 12 ; além do cão Bo ;, em uma casa de veraneio alugada pela primeira-família. Os Obama passam o verão em Martha1s Vineyard desde que se mudou para a Casa Branca, em janeiro do ano passado. O porta-voz adjunto Bill Burton informou que o presidente não participará de eventos públicos: como em 2009, pretende praticar golfe e relaxar. ;O presidente veio recarregar as baterias, passear, ir à praia.;


O número
4.400
Baixas militares sofridas pelos EUA no Iraque desde 2003






Para 18%, Obama é muçulmano
Quase um entre cinco americanos acredita que o presidente Barack Hussein Obama é muçulmano, revelou uma pesquisa divulgada ontem pelo Pew Research Center. Embora Obama tenha reiterado sua fé cristã, 18% dos entrevistados acham que o presidente pratica o islamismo, enquanto apenas 34% o identificaram como cristão. Em cada 10 entrevistados que acreditam que Obama é muçulmano, seis disseram ter recebido a informação da mídia impressa e 16% apontaram como fonte a televisão. Outros 11% afirmaram que se baseiam na observação do comportamento e das palavras do presidente.

Na quarta-feira, Obama divulgou mensagem com votos de felicidades aos fiéis muçulmanos de todo o mundo ; cerca de 1,5 bilhão ; pela passagem do mês sagrado do Ramadã. O presidente colocou-se no centro de uma polêmica em torno do projeto de construção de um centro islâmico a dois quarteirões de onde ficavam as torres gêmeas do World Trade Center (WTC), em Nova York, alvo dos atentados de 11 de setembro de 2001. No entanto, a pesquisa foi baseada em entrevistas realizadas antes da controvérsia.

O diretor do centro de pesquisas Pew, Andrew Kohut, disse que a confusão dos entrevistados reflete ;a intensificação das visões negativas sobre Obama entre seus críticos;. A pesquisa apurou que um terço dos americanos que se identificam como republicanos conservadores considera que Obama é muçulmano, número que dobrou em relação ao ano passado. Já a porcentagem das pessoas que ficaram indecisas sobre a religião do presidente aumentou de 34%, em 2009, para 43%.

Muitos americanos associam o sobrenome árabe do presidente à fé islâmica. Obama é filho de um muçulmano nascido no Quênia e de uma americana do Kansas. Ele viveu na Indonésia, país de maioria muçulmana, com a mãe e o padrasto indonésio, dos seis aos 10 anos de idade.


O número
34%
Porcentagem dos americanos que identificam o presidente como cristão