Os australianos realizam neste sábado eleições legislativas, convocadas com antecedência pelo governo trabalhista da primera-ministra Julia Gillard para tentar garantir maioria, apesar das pesquisas apostarem em um resultado incerto.
Gillard entrou de cabeça na disputa, aos se declarar, na última terça-feira, favorável a transformar o país numa república após a morte da rainha Elizabeth II, que detém o posto de chefe de Estado da ilha-continente de 22 milhões de pessoas, como em muitas outras ex-colônias britânicas que fazem parte da Commonwealth.
A morte da rainha seria o momento "apropriado" para que a Austrália se separasse da tutela, destacou Gillard. "Acho que este país deveria ser uma república", declarou a primeira mulher a governar a Austrália, explicando, no entanto, não duvidar de que a nação sente "um grande afeto pela rainha Elizabeth" e que espera que a soberana "viva por muito tempo". "Como primeira-ministra, gostaria que trabalhássemos para chegar a um acordo sobre o modelo de república", completou.
Apesar da Austrália ser independente desde 1901, a rainha Elizabeth II continua sendo a chefe de Estado e o rosto está estampado na moeda nacional. De qualquer forma, os australianos já se pronunciaram contra a transformação do país em república num referendo em 1999 e o debate continua dividindo o país.
As últimas pesquisas dão a Gillard uma leve vantagem de quatro pontos (52% a 48%) em relação ao conservador Tony Abbott, que durante a campanha insistiu na necessidade de frear a afluência dos refugiados de toda a Ásia.
Muitos australianos admitem a possibilidade de um Parlamento sem maioria absoluta pela primeira vez em 70 anos.
Julia Gillard, advogada de 48 anos, nascida em Gales, foi eleita pelo partido, em junho, para suceder a Kevin Rudd, após uma série de revezes políticos.
Rudd - cuja eleição em 2007 pôs fim a 11 anos de poder do conservador John Howard - foi afetado por algumas difíceis decisões, como o abandono de um plano de luta contra a mudança climática e um projeto de criar um imposto sobre os enormes lucros dos grupos mineradores.
Durante uma breve campanha, os australianos puderam apreciar dois estilos claramente diferentes.
Gillard é solteira, sem filhos e ateia e Abbott, um fervoroso católico de 52 anos que se apresenta como representante da família.
Os trabalhistas colocam ênfase no bem-estar econômico, tendo em vista que a Austrália foi, graças a um ambicioso plano de recuperação, a única economia desenvolvida a evitar a recessão durante a crise financeira.
O governo prometeu dar continuidade aos investimentos em infraestrutura, saúde e educação, mas se vê prejudicado com a impopularidade do projeto de impostos incidindo sobre a atividade de mineração, que irritou companhias como a BHP Billiton e a Rio Tinto.
Gillard chegou até a acertar um compromisso com as mineradoras, prometendo reduzir o projeto de imposto entre 40% e 30%.
Em relação à imigração, reviveu o polêmico projeto de criar um centro de detenção de imigrantes no Timor Leste e anunciou o restabelecimento de estudos de demandas de asilo por parte de refugiados de Sri Lanka, que haviam sido suspensos pelo antecessor.
Abbott - nascido na Grã-Bretanha - reconhece que a Austrália é uma nação fundada graças à imigração, mas se comprometeu a limitar o número de imigrantes.
Caso os 14 milhões de eleitores inscritos - sujeitos ao voto obrigatório - concedam o mesmo número de votos aos dois partidos, trabalhistas e conservadores teriam que buscar uma coalizão com os verdes - terceiro partido em força - para formar o governo.