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Filhos de Sakineh demitem advogado

Mensagem revela divergência entre ativistas e defensor da viúva condenada ao apedrejamento

Enquanto Sakineh Mohammadi Ashtiani aguarda a decisão da Justiça iraniana em uma cela superlotada da prisão de Tabriz, uma carta supostamente assinada pelos filhos da viúva condenada à morte causou polêmica. Na mensagem (leia ao lado), escrita em farsi, o casal Sajjad, 22 anos, e Saideh Ghaderzadeh, 17, destitui Mohammad Mostafaei do cargo de advogado de Sakineh e lhe pede que não se pronuncie mais sobre a mãe, sentenciada ao apedrejamento. Em visita a Berlim, a convite de Markus Loening ; comissário de direitos humanos do governo da Alemanha ;, Mostafaei falou ao Correio por telefone, denunciou um complô de opositores ao regime islâmico e acusou Mina Ahadi, fundadora do Comitê Internacional contra o Apedrejamento, de desacreditá-lo (leia a entrevista nesta página). A polêmica teve início na segunda-feira, quando Mostafaei admitiu à revista alemã Der Spiegel que Sakineh drogou o marido, antes de ajudar o primo dele a matá-lo. Por e-mail, Mina Ahadi confirmou ao Correio que Mostafaei não é mais advogado de Sakineh. ;Assim como o regime islâmico, ele incrimina Sakineh, e não a defende;, comentou a ativista. ;Conversei com Mostafaei e achamos que não está certo o que ele disse. Talvez ele esteja sob pressão, porque sua mulher e sua filha estão no Irã e, por isso, tenta dizer alguma coisa que seja contrária aos interesses de Sakineh;, acrescentou. Mostafaei disse à reportagem ;não concordar; com as palavras de Mina Ahadi. ;Sakineh é uma mulher pobre e foi enganada. Essa história (assassinato) não é importante. O ponto central aqui é que querem apedrejá-la;, declarou. O advogado demitido também se recusou a abordar novamente o assunto. Mohammad Mostafaei, advogado da iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani, fala sobre sua suposta demissão (em inglês) Segundo o Comitê Internacional contra o Apedrejamento, Sajjad e Saideh responderam a Mostafaei ainda na segunda-feira, por meio de uma entrevista à revista Rooz On-Line. ;Não há qualquer evidência que prove que minha mãe ajudou a matar meu pai, nem que ela tenha feito tal confissão. O que o chefe do Judiciário da província do Azerbaijão do Leste anunciou é totalmente falso;, afirmaram. Mais cedo, em um comunicado à imprensa, Mina Ahadi lembrou que ;é princípio fundamental que nenhum advogado no mundo tem permissão para tornar pública informação confidencial de qualquer caso;. Ela revelou ter documentos da Corte do Irã provando que o caso de assassinato foi julgado em um tribunal diferente, sem a presença de Mostafaei. Caso Ainda de acordo com Mina, a viúva iraniana foi absolvida da acusação de assassinato e declarada culpada, por outra Corte, de manter ;relações ilegítimas com dois homens; ; crime diferente do de adultério e não punível com o apedrejamento. ;Sakineh foi sentenciada a 99 chibatadas, dadas diante do filho (Sajjad), e a mais 10 anos de prisão por ;distúrbios à paz social;. Ambos os casos foram encerrados. Mais tarde, a Corte da Província de Azerbaijão do Leste, em Tabriz, acusou-a de adultério, pedindo o apedrejamento;, afirma a ativista, no texto. ;Recomendei aos filhos de Sakineh que entrassem em contato com Mostafaei, um advogado bem conhecido em casos de adultério e de execução de crianças.; Mina explica que Hossein Nobakht, vice-promotor de Tabriz, prometeu à acusada que, caso confessasse na TV, seria salva do enforcamento. ;O regime tenta apresentá-la como cúmplice de homicídio e prepara sua execução. Sob tais circunstâncias, as declarações de Mustafaei para a Der Spiegel são extremamente irresponsáveis;, desabafou ela.