WASHINGTON - O apoio do presidente americano, Barack Obama, à construção de uma mesquita perto do Ground Zero, em Nova York, gerou polêmica neste sábado nos Estados Unidos, onde familiares das vítimas dos atentados de 11/9 se declararam "atônitas" com a atitude.
"O presidente declarou obsoletos nossas memórias do 11 de setembro e o caráter sagrado do Ground Zero", criticou a organização "Famílias do 11/9 para uma América Forte e Segura", que reúne familiares de vítimas do ataque contra o World Trade Center, que deixou cerca de 3.000 mortos em 11 de setembro de 2001.
"Estamos atônitos", indicou o grupo, considerando que Obama "abandonou os Estados Unidos no local onde o coração dos Estados Unidos se rompeu há nove anos, e onde seus verdadeiros valores estavam à vista de todos".
"Agora, este presidente declara que as vítimas do 11/9 e suas famílias devem suportar outra carga. Devemos nos manter calados no último lugar nos Estados Unidos onde o (atentado do) 11/9 ainda é lembrado", destacou a organização.
Na sexta-feira, ao participar de um jantar de quebra do jejum do Ramadã oferecido na Casa Branca, Obama fez um discurso a favor da liberdade de culto.
"O direito de construir um local de oração e um centro comunitário em uma propriedade privada em Lower Manhattan está de acordo com as leis e normas locais", lembrou o presidente.
Foi o primeiro comentário público de Obama a respeito desta questão - que desde maio, quando o conselho municipal aprovou a construção de uma mesquita em uma rua próxima ao Ground Zero, vinha gerando acaloradas discussões na cidade.
Neste sábado (14/8), Obama voltou a abordar o tema junto à imprensa.
"Neste país, tratamos todo mundo de maneira igualitária, e de acordo com a lei, sem levar em conta a raça ou a religião", disse o presidente na Flórida, onde passa o fim de semana com a mulher e as filhas.
A declaração de Obama carrega um potencial risco político, a pouco menos de três meses das eleições legislativas.
Uma pesquisa da CNN/Opinion Research divulgada recentemente revelou que 68% dos americanos é contra a construção da polêmica mesquita, enquanto apenas 29% se diz a favor do projeto.
A oposição republicana não perdeu tempo: o congressista Peter King, de Nova York, acusou o presidente de ter "cedido a favor do politicamente correto".
Para o representante republicano, a comunidade muçulmana "abusa" de seus direitos e "ofende gratuitamente" muitas pessoas com este projeto.
O Centro para as Relações Islâmico-Americanas, por sua vez, saudou a intervenção de Obama, afirmando que suas palavras devem "servir de alento àqueles que combatem a crescente islamofobia" no país.
Os defensores do projeto nova-iorquino argumentam que a "Casa Córdoba", como se chamariam a mesquita e o centro comunitário muçulmano, ajudaria a sobrepujar os estereótipos que prejudicam a comunidade muçulmana de Nova York desde 11 de setembro de 2001.
O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, disse que as declarações de Obama foram uma "defesa elevada e clara da liberdade de culto".