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Rússia reluta em revelar número de vítimas da onda de calor

A imprensa russa e a internet transbordam em depoimentos sobre a gestão calamitosa da onda de calor pelo governo, acusado de minimizar as perdas humanas no relatório das seis semanas de calor excepcional na Rússia.

O jornal popular Tvo; Den afirmou hoje (13/8), com foto de apoio, que o departamento de Saúde de Moscou proibiu que médicos diagnosticassem "insolação" para suavizar "as estatísticas de mortes relacionadas à onda de calor".

Inúmeros médicos, sob anonimato, entrevistados pela agência Interfax confirmaram a informação. "Explicaram para a gente que a estatística de insolação ultrapassava todos os limites em Moscou", disse um médico. "Recebemos ordem oral. Mesmo que as temperaturas baixem, essa instrução deve ser seguida até o dia 1; de setembro", contou outro.

"Não houve qualquer ordem, isto é loucura", defendeu-se uma dirigente do departamento de Saúde de Moscou questionada pela AFP.

O órgão, no entanto, não respondeu ao pedido da AFP, nesta sexta-feira, de fornecer os relatórios demográficos da capital russa dos meses de julho e agosto.

O chefe do departamento, Andre; Seltsovski, havia reconhecido em 9 de agosto que a mortalidade tinha duplicado na capital, com 700 mortes registradas diariamente, sem precisar de qual período era o número.

Em seguida, o Ministério da Saúde russo teria repreendido o dirigente, garantindo que dados confiáveis para os meses de julho só estariam disponíveis após 20 de agosto.

Mas, segundo os números obtidos pela AFP, com a ajuda dos serviços do estado civil moscovita, o número de mortos em Moscou saltou em julho 50%, o que pode significar cinco mil mortes.

A chefe dos serviços sanitários de Moscou, Tatiana Popova, se recusou a estabelecer uma relação entre o calor e a alta na mortalidade, explicando que o estado civil não diferenciava a causa das mortes, que eram, na verdade, consequências de "acidentes nas estradas ou doenças". Esse argumento foi ridicularizado por Anton Avdeyev, chefe do sindicato das funerárias.

Segundo Avdeyev, "os corpos permaneciam nos apartamentos de 10 a 12 dias porque não havia carros suficientes" para transportá-los até o necrotério. "Meu avô, que morreu de insolação, há 24 horas, continua no apartamento e faz 35;C nas ruas. Nós o cobrimos com um lençol molhado e fechamos as janelas para retardar a decomposição", escreveu em 9 de agosto um blogueiro, molitva_i_post.

Em um fórum de discussões de médicos legistas, sudmed.ru, um internauta perguntava "como combater o mal cheiro de cadáver" em um apartamento.

Profissionais da saúde descreviam em blogs as condições de trabalho terríveis: 50;C no interior das ambulâncias, fumaça dentro dos hospitais, falta de ar condicionado dentro das salas de operação e nos quartos e corpoas no porão porque os necrotérios estavam lotados.

Com a volta do prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, das férias no último domingo, foi possível que algumas medidas emergenciais fossem postas em prática, tais como adaptação de carros comuns para carros fúnebres e a abertura de um novo necrotério.